São Paulo, Quarta-feira, 30 de Junho de 1999
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MÚSICA
Produtor de fenômenos como Ricky Martin e Jennifer Lopez diz que os latinos estão revolucionando a música
Pop norte-americano se esgotou, diz Estefan

Divulgação
O empresário Emilio Estefan Jr., arquiteto do "boom" latino


DANIEL CASTRO
enviado especial a Miami

Do quarto andar de um de seus prédios em South Miami Beach, num ambiente impregnado pelo odor de velas aromáticas, Emílio Estefan Jr., 46, um refugiado cubano que virou milionário nos EUA, comandou nos últimos anos aquilo que classifica de "revolucionário": a explosão de artistas latinos no mercado norte-americano.
Estefan é um dos responsáveis -ao lado do produtor Roberto Livi- pela febre de pop latino que contagia o verão norte-americano. Ricky Martin, o primeiro astro de origem latina a ocupar o topo da parada dos cem discos mais vendidos nos EUA (são mais de 4 milhões de CDs em seis semanas), e Jennifer Lopez, cujo "On the 6" é atualmente o 12º mais vendido, são produtos arquitetados por Estefan, seja como produtor ou como presidente mundial de desenvolvimento artístico da Sony Music.
Nas paradas da revista "Billboard", Jennifer e Martin ocupam, respectivamente, o primeiro e o segundo lugar na venda de singles. Jennifer ainda lidera na categoria de singles latinos, em parceria com Marc Anthony, com "No me Ames" -Estefan é o produtor da versão tropical remixada.
"A música pop norte-americana se esgotou. Romper a barreira contra a música latina foi muito difícil. Mas hoje há uma influência latina muito grande nos Estados Unidos, não só sobre a música, mas também sobre o cinema e a comida", diz Estefan, anunciando que Shakira, 22, artista colombiana gerenciada e produzida por ele, e que lança seu terceiro disco em agosto, deverá ser capa da revista "Newsweek" da próxima semana. "Shakira vai substituir Ricky Martin nas paradas americanas."
Estefan credita o fenômeno latino nos EUA não só ao fato de lá viverem cerca de 30 milhões de latinos. "Para entrar no mercado norte-americano, a música tem de ser muito bem produzida", afirma.
"Não é um modismo", corrobora Jose Behar, presidente da EMI Latin Records. "É um fenômeno demográfico", discorda o colunista de música Enrique Fernandez, do "Sun Sentinel".
Além de Jennifer Lopez e Martin, e dos mais antigos Gloria Estefan (mulher de Emílio) e Jon Secada (produzido por Estefan), há uma geração de artistas que dá ao boom latino uma cara de "movimento musical". São eles Shakira e Carlos Ponce (gerenciados por Estefan), Alejandro Fernandez, Javier (cujo novo clipe estréia hoje na MTV), Christian Castro, Enrique Iglesias e Marc Anthony (que está sendo lançado no Brasil), entre outros.
Os artistas dessa explosão latina são bonitos e jovens, necessariamente. Alguns, como Jennifer Lopez, são filhos de imigrantes e cresceram nos Estados Unidos. Ou são latinos natos, que cantam em inglês e fundem estilos (o pop comsalsa, por exemplo), num processo conhecido por "crossover".
Do Brasil, a promessa são os pagodeiros do Só Pra Contrariar. Eles acabam de gravar um single, "Santo Santo", com Gloria Estefan, em espanhol e em português. Emílio Estefan é produtor e co-autor.
A música já faz sucesso na Espanha e será lançada nos EUA em julho. No Brasil, só deve sair no final do ano, no segundo disco em espanhol do Só Pra Contrariar, que em Miami são conhecidos por Sopra.
No Brasil, no entanto, o fenômeno latino ainda não emplacou. O novo CD de Ricky Martin, que está há um mês nas lojas, vendeu apenas 50 mil cópias. Shakira, que vendeu 800 mil do primeiro CD, ficou nos 100 mil no segundo.
Com cinco Grammys no currículo, Emílio Estefan é hoje um dos homens mais requisitados da indústria musical. Ele vai produzir duas músicas, em inglês, do novo álbum de Michael Jackson. "Mariah Carey e Celine Dion também querem gravar comigo", afirma.


O jornalista DANIEL CASTRO viajou a convite da Reed Midem Organisation


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