São Paulo, Quarta-feira, 30 de Junho de 1999
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CRÍTICA
Fábula contra a crueldade

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O curta "Algo em Comum" é uma fábula singela sobre a solidariedade e o afeto diante da barbárie contemporânea.
Nas ruas hostis da cidade de São Paulo, entre muros, automóveis, lixo e ruínas, um menino corre.
Não sabemos de que ele foge. Sabemos apenas que o menino é negro e pobre -o que, nos dias de hoje, já basta para fazer dele um ser acossado. Assim como, em outro tempo e lugar, um sobrenome judeu bastava para levar um homem ou uma mulher ao inferno.
O menino que corre vê imagens desse inferno -os campos de concentração nazistas- em telas de TV que cruza pelo caminho. Às imagens do Holocausto contrapõem-se outras, mais recentes, das violências cometidas contra a infância pobre do Brasil.
O garoto perseguido e desorientado vai parar por acaso num salão onde pessoas que ele não conhece cantam numa língua que ele ignora (o iídiche). Apesar disso, ele se sente acolhido, e aos poucos um sorriso ilumina seu rosto.
Há uma comunicação sem palavras entre a senhora judia que rege o coral e o menino negro. Ambos são sobreviventes.
Sobre os letreiros finais do filme, ouvimos a mesma canção, "Dos Kelbl" ("O Bezerro"), na voz do menino, em português. Como já suspeitávamos, ela fala de brutalidade e sobrevivência. Não há tema mais universal e mais atual.
Haverá quem censure a simplicidade da concepção de "Algo em Comum". Mas é um filme empenhado, que se serve de uma narrativa puramente cinematográfica, abrindo mão de diálogos, locução e textos explicativos para comunicar sua poderosa mensagem.


Avaliação:    


Filme: Algo em Comum Direção: Reinaldo Pinheiro e Edu Ramos Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 011/280-0896) Quando: hoje, às 20h30

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