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CRÍTICA
Fábula contra a crueldade
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O curta "Algo em Comum" é
uma fábula singela sobre a solidariedade e o afeto diante da barbárie
contemporânea.
Nas ruas hostis da cidade de São
Paulo, entre muros, automóveis,
lixo e ruínas, um menino corre.
Não sabemos de que ele foge. Sabemos apenas que o menino é negro e pobre -o que, nos dias de
hoje, já basta para fazer dele um ser
acossado. Assim como, em outro
tempo e lugar, um sobrenome judeu bastava para levar um homem
ou uma mulher ao inferno.
O menino que corre vê imagens
desse inferno -os campos de concentração nazistas- em telas de
TV que cruza pelo caminho. Às
imagens do Holocausto contrapõem-se outras, mais recentes, das
violências cometidas contra a infância pobre do Brasil.
O garoto perseguido e desorientado vai parar por acaso num salão
onde pessoas que ele não conhece
cantam numa língua que ele ignora (o iídiche). Apesar disso, ele se
sente acolhido, e aos poucos um
sorriso ilumina seu rosto.
Há uma comunicação sem palavras entre a senhora judia que rege
o coral e o menino negro. Ambos
são sobreviventes.
Sobre os letreiros finais do filme,
ouvimos a mesma canção, "Dos
Kelbl" ("O Bezerro"), na voz do
menino, em português. Como já
suspeitávamos, ela fala de brutalidade e sobrevivência. Não há tema
mais universal e mais atual.
Haverá quem censure a simplicidade da concepção de "Algo em
Comum". Mas é um filme empenhado, que se serve de uma narrativa puramente cinematográfica,
abrindo mão de diálogos, locução
e textos explicativos para comunicar sua poderosa mensagem.
Avaliação:
Filme: Algo em Comum
Direção: Reinaldo Pinheiro e Edu Ramos
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 011/280-0896)
Quando: hoje, às 20h30
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