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CINEMA
"Algo em Comum" tem pré-estréia hoje em SP; filme reúne as mazelas do Holocausto às dos meninos de rua
Curta mescla barbáries do passado e presente
CLÁUDIA GURFINKEL
free-lance para a Folha
Um filme que trata da questão
das minorias, das barbáries e holocaustos que a humanidade já viveu
e que ainda vive.
Assim é "Algo em Comum", um
curta-metragem de Reinaldo Pinheiro e Edu Ramos, que tem sua
pré-estréia hoje, às 20h30, no Museu da Imagem e do Som (MIS),
em São Paulo.
O curta mostra um menino negro correndo pelas ruas da metrópole e um coral de velhos judeus
ensaiando músicas do Holocausto.
O coral Tradição, que comemora
uma década em 1999, canta "Dos
Kebl" ("O Bezerro"), em iídiche
(língua com base no alemão do século 14, acrescido de elementos hebraicos e eslavos).
"No início, nós queríamos fazer
um documentário sobre o Bom
Retiro, que foi um bairro tradicional judaico até o final da década de
80. Mostraríamos a chegada dos
coreanos e a saída dos judeus, a
descaracterização do bairro", diz
Pinheiro.
"Mas, para não ficar um documentário careta, tivemos a idéia de
falar sobre o Holocausto, as minorias, os excluídos."
Seleção
O Bom Retiro acabou virando o
cenário da história de "Algo em
Comum".
O protagonista, Mário Sérgio dos
Santos Oliveira, 10, foi selecionado
entre 120 crianças. Ele foge pelas
ruas do bairro e acaba se inserindo
no ensaio do coral.
Para unir esses dois elementos
-os judeus e os meninos abandonados-, o curta mostra imagens
fortes da questão do menor de rua
no Brasil e do Holocausto, vivido
pelos judeus durante a Segunda
Guerra Mundial.
"Tentamos pegar as imagens menos clichês possíveis, já que não
queríamos mostrar corpos amontoados. Mas são imagens bastante
tocantes", diz Ramos.
Pacifismo
E a dupla só se utiliza de imagens
para registrar a barbárie e o encontro, mostrando assim que os judeus do coral do Instituto Cultural
Israelita Brasileiro (Icib) e o menino têm algo em comum.
"Em certos momentos, a palavra
não tem significado", afirma Ramos. "É por meio da troca de olhar
do menino com a maestrina do coral, Hugueta Sendacz, que conseguimos passar uma visão pacifista
do assunto."
Festivais
O filme, o segundo da dupla, foi
gravado em novembro de 1998 e
começou a ser editado em março.
O primeiro curta de Pinheiro e
Ramos foi "A Desforra da Titia"
(1995), inspirado nos quadrinhos
pornográficos de Carlos Zéfiro, famosos nos anos 60; o filme deu a
Cristina Mullins o prêmio de melhor atriz no Festival de Gramado
daquele ano.
"Aqui no Brasil, nós pretendemos levar "Algo em Comum" para
vários festivais, como os de Gramado, Brasília, Rio de Janeiro, Recife e Ceará", diz Pinheiro. "Mas
nós estamos pensando muito no
mercado externo. Achamos que a
compreensão na Europa vai ser
muito grande."
CD
Além do filme, o coral Tradição,
com seus 35 componentes, lançou
um álbum para comemorar seus
dez anos. "Canta Tradição", à venda desde o início do mês de junho,
tem 18 faixas, todas em iídiche.
As imagens do coral foram feitas
em um dia; já as do menino Mário
Sérgio foram feitas em três.
O curta-metragem, de dez minutos, termina com o menino cantando, em português, a mesma
música do coral. A letra contrasta,
usando as imagens do bezerro e de
pássaros, o genocídio nazista e a liberdade.
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