São Paulo, Sexta-feira, 30 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma auto-invasão de privacidade

FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local

Não há cinema que domine melhor a difícil arte da ironia como o inglês. É por isso que "Um Lugar Chamado Notting Hill" é muito mais do que uma simplória comédia romântica. A começar pelos protagonistas. Afinal, quem iria apostar no romance entre a maior estrela de Hollywood e o dono de uma obscura loja de livros de viagem, encalacrada no badalado bairro londrino?
A trindade formada pelo produtor Duncan Kenworth, pelo roteirista Richard Curtis e pelo ator Hugh Grant -de "Quatro Casamentos e Um Funeral"- apostou. E mais: dobrou a aposta, somando à premissa improvável coadjuvantes impagáveis e uma severa crítica à mídia londrina.
Julia Roberts empresta sua celebridade a Anna Scott, de passagem por Londres para divulgar seu último sucesso, uma ficção científica chamada "Helix". Hugh Grant inunda seu William Thacker com os mais encantadores maneirismos britânicos.
É por isso que a atriz se interessa por ele quando entra na livraria durante um passeio anônimo pelo bairro: ele a poupa da balela de fã com sua discrição tipicamente inglesa. É o primeiro dos muitos encontros e desencontros entre os dois, que nascem, obviamente, da distância entre seus mundos.
Um deles acontece quando Wil-liam entra, por engano, numa conferência de imprensa de "Helix" e vê-se obrigado a entrevistar todo o elenco. Outro, quando o casal é surpreendido pelos paparazzi -como Roberts e Grant já o foram, Divine Brown que o diga-, graças ao hilário Spike (Rhys Ifans), que divide o apartamento com William e fala do encontro aos amigos de bar. As farpas para a imprensa são fartas.
Mas um dos encontros, que acontece no jantar de aniversário da irmã de William, é pontual. No final, o último pedaço do brownie vai para quem tiver a vida mais miserável, incluindo Anna.
É no abismo que separa a dura realidade dos homens comuns -nesse caso, ingleses- e a glamourosa fantasia das celebridades que se instaura a ironia. A felicidade, certamente, está em algum lugar entre as duas. E, certamente, dispensa a trilha sonora cafona que contamina o filme.


Avaliação:    


Filme: Um Lugar Chamado Notting Hill Produção: Inglaterra, 1999 Direção: Roger Michell Com: Hugh Grant, Julia Roberts, Rhys Ifans Quando: a partir de hoje, nos cines Astor, Center Iguatemi 3 e circuito

Texto Anterior: Um lugar chamado Notting Hill
Próximo Texto: Tudo muito meloso
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.