São Paulo, Sexta-feira, 30 de Julho de 1999
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Ciclo faz 'plano geral' do cinema brasileiro

CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha


Houve um tempo em que São Bernardo almejou ser Hollywood e o bairro da Tijuca, no Rio, se quis como uma grande Cineccità. Depois da falência dos estúdios Vera Cruz e Atlântida, ainda quiseram fazer do País uma potência industrial, de filmes. Foi em 1969, quando criaram a Empresa Brasileira de Filmes S.A. (Embrafilme).
Uma panorâmica nos anos de cinema brasileiro em fase de "desenvolvimento" é o que propõe o ciclo "Plano Geral da Indústria Cinematográfica Brasileira", que começa hoje, no Centro Cultural São Paulo, com o lançamento do livro "Embrafilme: Cinema Brasileiro em Ritmo de Indústria", do pesquisador André Gatti, e a abertura de uma mostra com fotografias e cartazes de alguns filmes marcantes nesse processo.
E, a partir do dia 3, o evento cresce com as projeções de alguns filmes exemplares do casamento indústria-cinema. "Carnaval Atlântida" (52), produzido nos estúdios da Atlântida, e "Eles não Usam Black-Tie" (81), de Leon Hirszman, provavelmente são os títulos mais atrativos da mostra. O primeiro é a maior bilheteria já obtida por uma chanchada.
Já o filme de Hirszman não precisou de cifras para entrar na história. Ganhou um Leão de Ouro em Veneza e tem um elenco encabeçado por dois dos mais expressivos atores brasileiros: Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri.
Ficaram faltando os filmes da Cinédia. André Gatti, responsável pela programação, diz que procurou os donos do acervo do estúdio, "mas eles disseram que teríamos de pagar uma quantia muito alta para exibi-los, R$ 3.000 por título".
Ainda assim, a programação serve para contrapor o que muita gente, cineastas incluídos, pensa da perigosa relação entre arte e indústria. Júlio Bressane, que não trabalhava com a Embrafilme, certa vez disse que a estatal pregava "uma imagem conclusiva do cinema brasileiro, padronizada".
Surpreendendo essa opinião, filmes como "Eros, o Deus do Amor" (81), de Walter Hugo Khouri, e "Eles não Usam Black-Tie" mostram uma independência criativa impensável para subsidiários de um Estado autoritário. Isso sem falar do esquizofrênico "A Idade da Terra" (80), de Glauber Rocha, que tomou US$ 1 milhão da Embrafilme e não retribuiu com bilheteria e nem mesmo com prêmios em festivais.
Por outro lado, fica claro que o estabelecimento de uma empresa estatal para cuidar da produção fílmica do País deixaria uma metragem considerável de ações suspeitosas pelo caminho.
"Sempre houve quem reclamasse da maneira como o dinheiro era distribuído", diz Gatti. "É o caso dos cineastas paulistas que, no começo dos anos 80, se sentiram marginalizados pela estatal e resolveram exigir a abertura de uma secretaria que cuidasse unicamente de projetos paulistas na empresa."
Apesar dos problemas, no fim dos anos 70 a Embrafilme produzia cerca de 100 filmes por ano. Em 79, por exemplo, a estatal distribuiu 142 títulos no País, enquanto que a poderosa MGM colocou 136 filmes no mercado brasileiro.


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