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Ciclo faz 'plano geral' do cinema brasileiro
CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha
Houve um tempo em que São Bernardo almejou ser Hollywood e o
bairro da Tijuca, no Rio, se quis
como uma grande Cineccità. Depois da falência dos estúdios Vera
Cruz e Atlântida, ainda quiseram
fazer do País uma potência industrial, de filmes. Foi em 1969,
quando criaram a Empresa Brasileira de Filmes S.A. (Embrafilme).
Uma panorâmica nos anos de
cinema brasileiro em fase de "desenvolvimento" é o que propõe o
ciclo "Plano Geral da Indústria
Cinematográfica Brasileira", que
começa hoje, no Centro Cultural
São Paulo, com o lançamento do
livro "Embrafilme: Cinema Brasileiro em Ritmo de Indústria", do
pesquisador André Gatti, e a abertura de uma mostra com fotografias e cartazes de alguns filmes
marcantes nesse processo.
E, a partir do dia 3, o evento
cresce com as projeções de alguns
filmes exemplares do casamento
indústria-cinema. "Carnaval
Atlântida" (52), produzido nos
estúdios da Atlântida, e "Eles não
Usam Black-Tie" (81), de Leon
Hirszman, provavelmente são os
títulos mais atrativos da mostra.
O primeiro é a maior bilheteria já
obtida por uma chanchada.
Já o filme de Hirszman não precisou de cifras para entrar na história. Ganhou um Leão de Ouro
em Veneza e tem um elenco encabeçado por dois dos mais expressivos atores brasileiros: Fernanda
Montenegro e Gianfrancesco
Guarnieri.
Ficaram faltando os filmes da
Cinédia. André Gatti, responsável
pela programação, diz que procurou os donos do acervo do estúdio, "mas eles disseram que teríamos de pagar uma quantia muito
alta para exibi-los, R$ 3.000 por título".
Ainda assim, a programação
serve para contrapor o que muita
gente, cineastas incluídos, pensa
da perigosa relação entre arte e indústria. Júlio Bressane, que não
trabalhava com a Embrafilme,
certa vez disse que a estatal pregava "uma imagem conclusiva do
cinema brasileiro, padronizada".
Surpreendendo essa opinião,
filmes como "Eros, o Deus do
Amor" (81), de Walter Hugo
Khouri, e "Eles não Usam Black-Tie" mostram uma independência criativa impensável para subsidiários de um Estado autoritário. Isso sem falar do esquizofrênico "A Idade da Terra" (80), de
Glauber Rocha, que tomou US$ 1
milhão da Embrafilme e não retribuiu com bilheteria e nem mesmo
com prêmios em festivais.
Por outro lado, fica claro que o
estabelecimento de uma empresa
estatal para cuidar da produção
fílmica do País deixaria uma metragem considerável de ações suspeitosas pelo caminho.
"Sempre houve quem reclamasse da maneira como o dinheiro
era distribuído", diz Gatti. "É o caso dos cineastas paulistas que, no
começo dos anos 80, se sentiram
marginalizados pela estatal e resolveram exigir a abertura de uma
secretaria que cuidasse unicamente de projetos paulistas na
empresa."
Apesar dos problemas, no fim
dos anos 70 a Embrafilme produzia cerca de 100 filmes por ano.
Em 79, por exemplo, a estatal distribuiu 142 títulos no País, enquanto que a poderosa MGM colocou 136 filmes no mercado brasileiro.
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