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Sala mostra filmes do início do século
free-lance para a Folha
Hoje é dia de ver cinema do passado, no ciclo Cinema D'Antanho, da Cinemateca. E é provável
que desta vez ninguém saia correndo da sala de projeção quando
tiver início "A Chegada do Trem",
de Louis Lumière. A história é
bem conhecida. Sabe-se também
que Lumière era inventor, visionário, mas, estranho paradoxo,
péssimo profeta. Quando mostrou a primeira imagem da história do cinema para uma platéia de
33 pessoas, em 1895, no subsolo
do Grand Café de Paris, afirmou:
"O cinema é um invento sem futuro".
A rigor, foi ele o inventor. Mas
quem se encarregou de reverter
suas profecias, como num passe
de mágica, foi Georges Meliès, um
ilusionista que pegou o cinematógrafo emprestado para transformá-lo num passatempo sedutor.
Dele, a Cinemateca exibe "O Homem da Cabeça de Borracha", de
1901.
Outra raridade que também
passa hoje, como parte do ciclo , é
"O Grande Roubo do Trem",
1903, de Edwin S. Porter. São todos curtas de cerca de 3 minutos,
mostrados na virada do século em
máquinas em troca de algumas
poucas moedas.
Esses filmes representam a gênese de uma arte ainda cativa de
suas aptidões fantásticas. Meliès e
Porter não ousaram aproximar
suas câmeras do rosto dos atores,
mas usaram despudoradamente
efeitos especiais que hoje podem
parecer piada. Valia colar fita adesiva no negativo, filmar através de
um aquário para parecer que se
filmava no fundo do oceano etc.
Aliás, nenhum dos dois usava
atores de verdade em seus filmes.
Os protagonistas eram pessoas
comuns, amigos que trabalhavam
também atrás das câmeras. A representação nesses trabalhos era
muito menos um atributo teatral
do que fotográfico. Eram "filmes
posados".
Quem inventou o cinema da
maneira como o conhecemos hoje foi D. W. Griffith, autor de clássicos como "Intolerância" e "Nascimento de uma Nação", representado no programa de hoje por
"Simple Charity", de 1910.
Em "Simple Charity" ainda não
há closes nem planos-sequência,
mas há uma história. E é sobre
uma mulher pobre que se apaixona por um playboy. Qualquer semelhança dessa história com a de
filmes contemporâneos não é mera coincidência.
A sessão de hoje coloca, assim, o
cinéfilo a par de uma história que
se iniciou há mais de 100 anos,
quando Lumière inventou essa
arte "sem futuro".
Além dos títulos mencionados,
serão exibidos também "O Enterro da Rainha Vitória" (1901), "Um
Assalto à Luz do Dia" (1903)
"Uma Casa Bem Lavada" (?),
"Drame Chez Les Fantoches"
(1908), "O Inferno de Dante"
(1912), "East Lynne" (1913), "Dá-me um Beijo, Sim?" (1920) e "Calças Compridas" (?).
O quê: Cinema D'Antanho
Quando: hoje, às 20h30
Onde: Sala Cinemateca (lgo. Senador
Raul Cardoso, 207, tel. 0/xx/11/5084-2177)
Quanto: R$ 6
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