São Paulo, Sexta-feira, 30 de Julho de 1999
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Sala mostra filmes do início do século

free-lance para a Folha

Hoje é dia de ver cinema do passado, no ciclo Cinema D'Antanho, da Cinemateca. E é provável que desta vez ninguém saia correndo da sala de projeção quando tiver início "A Chegada do Trem", de Louis Lumière. A história é bem conhecida. Sabe-se também que Lumière era inventor, visionário, mas, estranho paradoxo, péssimo profeta. Quando mostrou a primeira imagem da história do cinema para uma platéia de 33 pessoas, em 1895, no subsolo do Grand Café de Paris, afirmou: "O cinema é um invento sem futuro".
A rigor, foi ele o inventor. Mas quem se encarregou de reverter suas profecias, como num passe de mágica, foi Georges Meliès, um ilusionista que pegou o cinematógrafo emprestado para transformá-lo num passatempo sedutor. Dele, a Cinemateca exibe "O Homem da Cabeça de Borracha", de 1901.
Outra raridade que também passa hoje, como parte do ciclo , é "O Grande Roubo do Trem", 1903, de Edwin S. Porter. São todos curtas de cerca de 3 minutos, mostrados na virada do século em máquinas em troca de algumas poucas moedas.
Esses filmes representam a gênese de uma arte ainda cativa de suas aptidões fantásticas. Meliès e Porter não ousaram aproximar suas câmeras do rosto dos atores, mas usaram despudoradamente efeitos especiais que hoje podem parecer piada. Valia colar fita adesiva no negativo, filmar através de um aquário para parecer que se filmava no fundo do oceano etc.
Aliás, nenhum dos dois usava atores de verdade em seus filmes. Os protagonistas eram pessoas comuns, amigos que trabalhavam também atrás das câmeras. A representação nesses trabalhos era muito menos um atributo teatral do que fotográfico. Eram "filmes posados".
Quem inventou o cinema da maneira como o conhecemos hoje foi D. W. Griffith, autor de clássicos como "Intolerância" e "Nascimento de uma Nação", representado no programa de hoje por "Simple Charity", de 1910.
Em "Simple Charity" ainda não há closes nem planos-sequência, mas há uma história. E é sobre uma mulher pobre que se apaixona por um playboy. Qualquer semelhança dessa história com a de filmes contemporâneos não é mera coincidência.
A sessão de hoje coloca, assim, o cinéfilo a par de uma história que se iniciou há mais de 100 anos, quando Lumière inventou essa arte "sem futuro".
Além dos títulos mencionados, serão exibidos também "O Enterro da Rainha Vitória" (1901), "Um Assalto à Luz do Dia" (1903) "Uma Casa Bem Lavada" (?), "Drame Chez Les Fantoches" (1908), "O Inferno de Dante" (1912), "East Lynne" (1913), "Dá-me um Beijo, Sim?" (1920) e "Calças Compridas" (?).


O quê: Cinema D'Antanho
Quando: hoje, às 20h30
Onde: Sala Cinemateca (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, tel. 0/xx/11/5084-2177)
Quanto: R$ 6


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