São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FESTIVAL DE VENEZA

Mexicano "Y Tu Mamá También" é um dos concorrentes do filme de Walter Salles

Irmãos Cuáron exibem "road movie" teen

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Walter Salles não tem por que ficar nervoso. É bem estabelecido e todos receberão com muita expectativa o novo filme", diz o mexicano Alfonso Cuarón, 39, falando à Folha por telefone do aeroporto, minutos antes do vôo que o levaria de Nova York a Veneza.
Seu "Y Tu Mamá También" (E Sua Mamãe Também) é exibido hoje na mostra oficial do Festival de Veneza, mesma seleção que convocou Salles e apressou a finalização de "Abril Despedaçado".
Dez anos separam "Sólo con Tu Pareja" (Só com Seu Par), primeiro longa de Cuarón, do novo filme. No meio, uma carreira nos EUA, da qual consta "Grandes Esperanças", de 98, baseado em obra de Dickens (1812-1870) e estrelado por Gwyneth Paltrow.
Unindo as duas pontas, a volta da colaboração com o irmão Carlos, 34, na concepção do roteiro, e a ambientação no país natal.
Carlos, que também falou à Folha sobre o trabalho com o irmão, mas da Cidade do México, conta que a dupla tentava, desde 89, dar tratamento ao rascunho inicial, "uma idéia muito vaga" dada pelo amigo (que se tornaria o fotógrafo do filme) Emmanuel Lubezki, em 89: um "road movie" sobre dois adolescentes que vão à praia.
"Periodicamente retomávamos a idéia para tentar fazer dela um roteiro. Só conseguimos dois anos atrás", chegando à viagem de Tenoch (Diego Luna) e Julio (Gael García Bernal).
"As namoradas dos dois vão para a Itália e eles pensam que vão aproveitar o verão como dois don Juans", prossegue Carlos. "Mas dá tudo errado", completa.
A espanhola Maribel Verdú faz a mulher do primo de Tenoch, que, por "motivos dolorosos", se junta à viagem (e às experiências sexuais) dos dois adolescentes.
O diretor diz que testou "centenas de garotos" até chegar aos dois ("eles são amigos a vida toda, o que nos deu uma linguagem comum a explorar").
Diego Luna já tinha boa projeção no México, atuando em TV e cinema (inclusive com uma ponta em "Antes do Anoitecer"). E Gael García Bernal, se antes era menos conhecido que o amigo, agora já filma em Hollywood, projetado pelo sucesso de "Amores Brutos", de Alejandro Gonzáles Iñárritu. Foi ao ver uma edição ainda crua da produção de Iñárritu que Alfonso Cuarón descobriu o rapaz.
Os irmãos Cuarón destacam o caráter experimental que quiseram imprimir ao filme.
Para Carlos, a maior referência está na nouvelle vague francesa. "Há muitos planos-sequência, de modo muito realista; a câmera é na mão, mas não é como em "Amores Brutos", busca uma narrativa íntima". Alfonso concorda: a câmera não é "nervosa", nem subjetiva. "Não há close-ups, mantém uma distância objetiva, como a observar a intimidade."
Outra experimentação que destacam é o uso de um narrador, "uma voz muito neutra", diz Carlos, que conta fatos nem sempre relacionados à trama de modo direto. "Quando as pessoas já estão se acomodando, o narrador as tira deste estado", diz Alfonso.
O ar de "drama engraçado", como define o diretor ("não é comédia, apesar de que as pessoas riem muito") se reafirma no realismo pretendido. "As cenas de sexo, por exemplo, não são eróticas. É um sexo desajeitado, porque é adolescente", ressalta Carlos.
Ambos se dizem contentes e relaxados quanto à participação em Veneza. O filme já está vendido a vários países e, em breve, poderá ser visto aqui, no Festival do Rio BR, que acontece no final de setembro. "Estou honrado em participar, mas, quando me dizem "que te vaya bien", eu respondo: já foi bem", conclui Alfonso.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.