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FESTIVAL DE VENEZA
Mexicano "Y Tu Mamá También" é um dos concorrentes do filme de Walter Salles
Irmãos Cuáron exibem "road movie" teen
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Walter Salles não tem por que
ficar nervoso. É bem estabelecido
e todos receberão com muita expectativa o novo filme", diz o mexicano Alfonso Cuarón, 39, falando à Folha por telefone do aeroporto, minutos antes do vôo que o
levaria de Nova York a Veneza.
Seu "Y Tu Mamá También" (E
Sua Mamãe Também) é exibido
hoje na mostra oficial do Festival
de Veneza, mesma seleção que
convocou Salles e apressou a finalização de "Abril Despedaçado".
Dez anos separam "Sólo con Tu
Pareja" (Só com Seu Par), primeiro longa de Cuarón, do novo filme. No meio, uma carreira nos
EUA, da qual consta "Grandes Esperanças", de 98, baseado em
obra de Dickens (1812-1870) e estrelado por Gwyneth Paltrow.
Unindo as duas pontas, a volta
da colaboração com o irmão Carlos, 34, na concepção do roteiro, e
a ambientação no país natal.
Carlos, que também falou à Folha sobre o trabalho com o irmão,
mas da Cidade do México, conta
que a dupla tentava, desde 89, dar
tratamento ao rascunho inicial,
"uma idéia muito vaga" dada pelo
amigo (que se tornaria o fotógrafo
do filme) Emmanuel Lubezki, em
89: um "road movie" sobre dois
adolescentes que vão à praia.
"Periodicamente retomávamos
a idéia para tentar fazer dela um
roteiro. Só conseguimos dois
anos atrás", chegando à viagem
de Tenoch (Diego Luna) e Julio
(Gael García Bernal).
"As namoradas dos dois vão para a Itália e eles pensam que vão
aproveitar o verão como dois don
Juans", prossegue Carlos. "Mas
dá tudo errado", completa.
A espanhola Maribel Verdú faz
a mulher do primo de Tenoch,
que, por "motivos dolorosos", se
junta à viagem (e às experiências
sexuais) dos dois adolescentes.
O diretor diz que testou "centenas de garotos" até chegar aos
dois ("eles são amigos a vida toda,
o que nos deu uma linguagem comum a explorar").
Diego Luna já tinha boa projeção no México, atuando em TV e
cinema (inclusive com uma ponta
em "Antes do Anoitecer"). E Gael
García Bernal, se antes era menos
conhecido que o amigo, agora já
filma em Hollywood, projetado
pelo sucesso de "Amores Brutos",
de Alejandro Gonzáles Iñárritu.
Foi ao ver uma edição ainda crua
da produção de Iñárritu que Alfonso Cuarón descobriu o rapaz.
Os irmãos Cuarón destacam o
caráter experimental que quiseram imprimir ao filme.
Para Carlos, a maior referência
está na nouvelle vague francesa.
"Há muitos planos-sequência, de
modo muito realista; a câmera é
na mão, mas não é como em
"Amores Brutos", busca uma narrativa íntima". Alfonso concorda:
a câmera não é "nervosa", nem
subjetiva. "Não há close-ups,
mantém uma distância objetiva,
como a observar a intimidade."
Outra experimentação que destacam é o uso de um narrador,
"uma voz muito neutra", diz Carlos, que conta fatos nem sempre
relacionados à trama de modo direto. "Quando as pessoas já estão
se acomodando, o narrador as tira deste estado", diz Alfonso.
O ar de "drama engraçado", como define o diretor ("não é comédia, apesar de que as pessoas riem
muito") se reafirma no realismo
pretendido. "As cenas de sexo,
por exemplo, não são eróticas. É
um sexo desajeitado, porque é
adolescente", ressalta Carlos.
Ambos se dizem contentes e relaxados quanto à participação em
Veneza. O filme já está vendido a
vários países e, em breve, poderá
ser visto aqui, no Festival do Rio
BR, que acontece no final de setembro. "Estou honrado em participar, mas, quando me dizem
"que te vaya bien", eu respondo: já
foi bem", conclui Alfonso.
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