|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Música pop embala imagens panorâmicas do país
DA REPORTAGEM LOCAL
"Pina é pop" foi o título de um
dos artigos publicados na Alemanha sobre o espetáculo de Pina
Bausch. Não é para menos. Com o
rejuvenescimento da companhia
alemã, um universo novo está
criado na companhia e pode ser
visto de várias formas.
A mais óbvia é na qualidade de
movimento do grupo. Jovens bailarinos trazem uma fisicalidade
nova para a companhia, que atinge o ápice do espetáculo nos solos
do espanhol Jorge Puerta e do
francês Fabien Prioville. Com um
grupo tão forte, é compreensível
que esta peça seja a mais "dançada" dos últimos tempos.
O pêndulo entre teatro e dança
sempre esteve presente no trabalho de Bausch. O bailarino Mikhail Baryshnikov afirmou certa
vez: "Quando há muita dança nos
trabalhos de Bausch, queremos
mais teatro, mas, quando há muito teatro, queremos mais dança".
Há mais de 20 anos, Bausch trabalha sempre com os mesmos ingredientes, muda apenas a intensidade de cada um deles.
Os espetáculos são feitos na colagem de várias pequenas cenas,
poucas em grupo. Em geral,
quando o conjunto é completo,
há uma espécie de êxtase no palco. Era assim a cena do barraco,
em "Masurca Fogo", e é assim
agora quando todos dançam juntos um baião. Entre os momentos
de conjunto, pequenos solos e cenas dramatizadas. Tudo é criado a
partir de aproximadamente cem
perguntas que Bausch apresenta
ao grupo durante o processo de
criação.
Para envolver a dança-teatro,
desde 1980, Peter Pabst cria os cenários orgânicos, nos quais a natureza ganha sempre dimensões
surpreendentes. Assim era o mar
de cravos rosa em "Cravos"
(1982), ou a imensa plataforma
suspensa de grama em "Wieseland" (2000). Por isso não deixa
de ser uma surpresa o espaço árido e branco da peça brasileira.
Mas é apenas a primeira impressão: o cenário é na verdade uma
grande tela para as projeções
-quase ininterruptas- que
acontecem durante todo o espetáculo. E a surpresa é maior quando
os imensos painéis sobem e plantas ocupam todo o palco.
Outro ingrediente fundamental
é o figurino de Marion Cito. Em
geral, vestidos e ternos sóbrios
que marcam claramente as diferenças de gênero. Na peça brasileira, contudo, há uma espécie de
relaxamento, e as cores ganham
dimensões tropicais.
Entretanto está no universo
musical o ingrediente com nova
intensidade. Além das canções
brasileiras, que a coreógrafa já utilizou em vários outros espetáculos, como Caetano Veloso, Gil,
Tom Jobim ou Carlinhos Brown,
a música eletrônica tem presença
marcante.
Estão lá alguns dos grupos mais
bacanas do momento, entre eles,
o inglês Leftfield, o francês St.
Germain e a cantora inglesa P.J.
Harvey. Todos embalando imagens contínuas do Pantanal, das
cataratas do Iguaçu ou apenas de
palmeiras ao vento. No Brasil, Pina realmente viajou.
(FCY)
Texto Anterior: Dança-teatro: Luzes ainda piscam no Brasil de Bausch Próximo Texto: Panorâmica - Televisão: Chico Anysio passa mal e é internado Índice
|