São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Música pop embala imagens panorâmicas do país

DA REPORTAGEM LOCAL

"Pina é pop" foi o título de um dos artigos publicados na Alemanha sobre o espetáculo de Pina Bausch. Não é para menos. Com o rejuvenescimento da companhia alemã, um universo novo está criado na companhia e pode ser visto de várias formas.
A mais óbvia é na qualidade de movimento do grupo. Jovens bailarinos trazem uma fisicalidade nova para a companhia, que atinge o ápice do espetáculo nos solos do espanhol Jorge Puerta e do francês Fabien Prioville. Com um grupo tão forte, é compreensível que esta peça seja a mais "dançada" dos últimos tempos.
O pêndulo entre teatro e dança sempre esteve presente no trabalho de Bausch. O bailarino Mikhail Baryshnikov afirmou certa vez: "Quando há muita dança nos trabalhos de Bausch, queremos mais teatro, mas, quando há muito teatro, queremos mais dança".
Há mais de 20 anos, Bausch trabalha sempre com os mesmos ingredientes, muda apenas a intensidade de cada um deles.
Os espetáculos são feitos na colagem de várias pequenas cenas, poucas em grupo. Em geral, quando o conjunto é completo, há uma espécie de êxtase no palco. Era assim a cena do barraco, em "Masurca Fogo", e é assim agora quando todos dançam juntos um baião. Entre os momentos de conjunto, pequenos solos e cenas dramatizadas. Tudo é criado a partir de aproximadamente cem perguntas que Bausch apresenta ao grupo durante o processo de criação.
Para envolver a dança-teatro, desde 1980, Peter Pabst cria os cenários orgânicos, nos quais a natureza ganha sempre dimensões surpreendentes. Assim era o mar de cravos rosa em "Cravos" (1982), ou a imensa plataforma suspensa de grama em "Wieseland" (2000). Por isso não deixa de ser uma surpresa o espaço árido e branco da peça brasileira. Mas é apenas a primeira impressão: o cenário é na verdade uma grande tela para as projeções -quase ininterruptas- que acontecem durante todo o espetáculo. E a surpresa é maior quando os imensos painéis sobem e plantas ocupam todo o palco.
Outro ingrediente fundamental é o figurino de Marion Cito. Em geral, vestidos e ternos sóbrios que marcam claramente as diferenças de gênero. Na peça brasileira, contudo, há uma espécie de relaxamento, e as cores ganham dimensões tropicais.
Entretanto está no universo musical o ingrediente com nova intensidade. Além das canções brasileiras, que a coreógrafa já utilizou em vários outros espetáculos, como Caetano Veloso, Gil, Tom Jobim ou Carlinhos Brown, a música eletrônica tem presença marcante.
Estão lá alguns dos grupos mais bacanas do momento, entre eles, o inglês Leftfield, o francês St. Germain e a cantora inglesa P.J. Harvey. Todos embalando imagens contínuas do Pantanal, das cataratas do Iguaçu ou apenas de palmeiras ao vento. No Brasil, Pina realmente viajou. (FCY)



Texto Anterior: Dança-teatro: Luzes ainda piscam no Brasil de Bausch
Próximo Texto: Panorâmica - Televisão: Chico Anysio passa mal e é internado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.