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DANÇA-TEATRO
Além das quatro apresentações já programadas, coreógrafa alemã ganha sessão extra na próxima terça
Luzes ainda piscam no Brasil de Bausch
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não foi apenas o desejo da coreógrafa alemã Pina Bausch de
realizar um espetáculo sobre o
Brasil que fez com que a cidade de
Wuppertal, sede de sua companhia, se tornasse um pouco verde
e amarela.
A atual crise energética brasileira fez com que o próprio país se
aproximasse da cidade alemã.
"São Paulo está tão escura que
nem a reconheço, parece Wuppertal no inverno, às 3h da manhã", disse anteontem à Folha o
bailarino Michael Strecker.
Quando a companhia de
Bausch esteve no Brasil para a
criação da peça sobre o país
-com estréia amanhã-, era Natal e o país vivia a overdose das luzinhas. O fato não passou despercebido pelos bailarinos, que
transportaram ao palco cenas
com as luzes. Ironicamente, o tema é até a foto de divulgação.
Mais uma vez, a realidade traz novas leituras para a arte.
O espetáculo brasileiro não tem
nome ainda. Pode ser que nunca
tenha. A criação da coreógrafa sobre a cidade espanhola de Madri,
de 92, não tem título até hoje.
"Quem espera encontrar um retrato do país vai ficar decepcionado", afirma a bailarina brasileira
Regina Advento. "Num grupo tão
diversificado, cada um viu o Brasil
de uma forma, e Pina não gosta de
nada que seja literal demais na
hora da criação", disse ainda.
Advento dá um exemplo: "Uma
das perguntas que Pina fez ao grupo foi para criar algo sobre a favela. Eu sou brasileira e nasci na favela, conheço a realidade. Como
já estou acostumada ao seu método, lembrei das brigas de mulheres por homens e criei uma cena
na qual duas bailarinas puxam os
cabelos uma da outra, mas de maneira contida, e isto entrou para o
espetáculo". A pedido da Folha,
Advento e a coreana Na Young
Kim reproduziram a cena numa
rua de São Paulo, como pode ser
visto na foto ao lado.
Superficial
Segundo o crítico Arnd Wesemann, editor da revista alemã de
dança "TanzAktuel", em artigo
publicado em junho passado, a
peça é superficial por não abordar
questões existenciais que antes
habitavam as coreografias de
Bausch. "Ela já trabalhou essas
questões há 20 anos, agora Pina
está em outra fase, muito mais visual", afirma Strecker, defendendo a coreógrafa.
Wesemann criticou ainda a
imagem excessivamente positiva
que Bausch fez do país, o que vários amigos da coreógrafa também têm questionado. A resposta
é sempre a mesma: "O Brasil tem
uma imagem muito negativa no
exterior, com a violência e as
crianças na rua. Eu não acho que
deva, como européia, criticar essa
situação. Prefiro apresentar o lado positivo, que também existe",
disse a coreógrafa à Folha.
O curador da Bienal de Dança
de Lyon, Guy Darmet, que visita o
país em busca de companhias para a edição de 2002, cujo tema é a
América Latina, critica a falta de
personalidades fortes entre os
bailarinos. "Houve uma renovação recente muito grande no grupo que afeta o conjunto", disse
Darmet. "Entretanto Bausch continua uma ótima dramaturga, e o
movimento, a dança é o destaque
do espetáculo", afirmou ainda o
curador, que já convidou a coreógrafa para levar a peça a Lyon, como parte da bienal.
O espetáculo, que teve estréia
em maio passado, na Alemanha,
chega aqui um pouco mais brasileiro. Isso porque a bailarina carioca Ruth Amarante, que não
participou da criação da peça,
substitui em São Paulo a australiana Julie Shanaham.
Será uma forte mudança. Shanaham tinha uma presença histérica no palco, sua característica
marcante. Amarante transformará o papel, imprimindo tom delicado e sensual.
Há sete anos, Bausch cria espetáculos anuais apenas a partir de
viagens, as co-produções com
países como Portugal, Itália e
Hungria. "É a fase mais leve de Pina, e a peça brasileira é o auge desse período", afirmou o crítico alemão Norbert Servos, na estréia do
espetáculo em Wuppertal.
No próximo ano, a tendência
pode ser interrompida. A coreógrafa volta a criar apenas a partir
de seu estúdio em Wuppertal. E
os bailarinos já colhem material.
Strecker, que visitou a mostra
"Espelho Cego" no MAM paulista, adorou o vídeo "Dream", do
inglês Hadrian Piggot, que explora uma relação erótica entre o artista e uma pia. Quem sabe o Brasil tenha sido a última escala na fase light da coreógrafa.
UMA PEÇA BRASILEIRA - De: Pina
Bausch. Com: Tanztheater Wuppertal.
Onde: teatro Alfa (rua Bento Branco de
Andrade Filho, 722, SP, tel. 0/xx/11/
5693-4000). Quando: estréia amanhã, às
21h; sex., sáb., seg. e ter., às 21h; dom., às
18h. Quanto: de R$ 40 a R$ 150.
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