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LIVRO/LANÇAMENTO
"TREMOR DE TERRA"
Mineiro tem obra indicada em vestibular enquanto prepara romance sobre comercialização da crença
Estréia resgata produção de Luiz Vilela
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
O livro de contos "Tremor de
Terra" pode servir de inspiração
aos novos talentos. Em 1967, a
obra ganhou, em Brasília, o Prêmio Nacional de Ficção. Tratava-se de uma edição modesta, custeada pelo autor, o mineiro Luiz
Vilela, então com 24 anos. Bateu
outros 250 escritores, inclusive
medalhões como Mário Palmério, Osman Lins e José Geraldo
Vieira. Dizem que este último estava tão certo da vitória que adentrou a capital federal com o discurso de agradecimento pronto.
Vilela, 61, conta que o livro nem
era para ser seu primeiro. "Escrevia contos desde os 13 anos; só
com os que rasguei poderia ter
composto outros três livros", avalia. O autor reuniu os que julgou
serem os melhores numa obra
chamada "No Bar", mas não encontrou nenhuma editora. "Em
desespero de causa", decidiu costurar um segundo volume com os
contos restantes e publicá-lo por
conta própria. Era "Tremor de
Terra". Depois da premiação, "as
portas das editoras abriram-se".
Passados mais de 20 anos desde
a última edição, em 1980, Vilela
aproveitou para fazer o texto passar por um escrutínio completo.
Garante não ter feito alterações
substanciais. "Depois de ter o livro publicado, não mexo mais em
elementos fundamentais como
história e personagem; nesse aspecto, está pronto." Confessa ter
efetuado pequenas operações de
linguagem, como "a troca por
uma palavra melhor, a busca da
eufonia, a correção de erros".
O livro foi indicado para o vestibular 2004 da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o
que talvez responda em parte pelo
sucesso da presente edição.
Segundo Vilela, a comissão da
universidade decidiu pela inclusão da obra por considerá-la "um
clássico". Mas será que a consagração não pode ser temerária
também, no que ela insinua de caráter modelar, de encerramento
de uma trajetória? Embora revele
ser "o único autor vivo dentre os
escolhidos pela UFMG", Vilela
garante que não pretende "ficar
curtindo os louros da vitória".
Para ele, a literatura brasileira
vive um "bom momento, de plena efervescência". Implicitamente, sugere que nem tudo que está
na praça é bom, quando afirma
que é dessa grande quantidade
que "nasce a qualidade". Instado
a apontar alguns exemplos atuais
de qualidade, menciona "contistas representativos" como o paulista Marçal Aquino e o paranaense Miguel Sanches Neto.
O próprio autor já prepara novo
romance, que se chama "Perdição". A história -"que começou
como conto, virou novela e agora
é um romance"- fala de um pescador que recebe o convite de
"uma dessas novas igrejas" para ir
ao Rio de Janeiro, onde enfrenta
uma crise existencial. Tendo como pano de fundo "a religião, o
sexo e as drogas", o livro combate
a comercialização da crença citando a segunda epístola de são
Pedro: "E por avareza farão de vós
negócio com palavras fingidas".
O ficcionista pretende concluir
o livro em breve, para lançá-lo em
2004. Ainda não tem editora, pois
está "em fase de negociação". Por
seus cálculos, tem 23 obras publicadas, contando as antologias.
Seus textos foram traduzidos
para várias línguas, como o inglês,
o italiano e o alemão. Do talentoso aspirante às letras de 1967 ao
escritor consagrado que hoje vive
da pena em sua cidade natal de
Ituiutaba (MG), realmente muita
coisa mudou.
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