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Chico estende turnê que estréia hoje em SP
"Carioca", que estava com ingressos esgotados, ganha oito apresentações extras
Rio de Janeiro, teatro e cinema são temas que
costuram o repertório; canções do novo CD se
juntam a outras 16
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PAULO
As cortinas se abrem, e Chico
Buarque já está no palco. Entoa
"Voltei a Cantar" (Lamartine
Babo), para demarcar seu novo
retorno aos palcos, e emenda
com mais duas canções, sem
deixar espaço para palmas. Balbucia um "boa noite, obrigado"
e só fala outra vez com a platéia
na 20ª música.
Show sem encenações ou falatórios, "Carioca" inicia hoje
temporada de seis semanas no
Tom Brasil Nações Unidas -as
quatro primeiras estão com lotação esgotada; os ingressos para as de outubro começam a ser
vendidos nesta sexta-feira.
O ensaio da última quinta,
realizado no auditório Ibirapuera para alunos de escolas de
música, revelou duas horas de
muita e boa música. O repertório de 29 itens supera o de 26 de
"As Cidades" (1999) e o de 24 de
"Paratodos" (1994), os dois espetáculos anteriores de Chico.
Presença explícita no título,
o Rio é o tema do cenário de
Helio Eichbauer e
de um terço das músicas. Mais
do que a hegemonia do Rio, no
entanto, o que se destaca é o encaixe das canções, às vezes muito sutil, sempre estimulante
para o público.
Não que seja preciso ficar
atento a esse quebra-cabeça para usufruir 28 composições de
Chico, interpretadas pelo próprio e por uma entrosada banda de sete músicos. Mas observá-lo ajuda a entender como foram escolhidas as 16 do baú do
artista que se somam às 12 de
"Carioca", o CD.
Depois da vinheta de Lamartine, o show começa com
"Mambembe", feita para o filme "Quando o Carnaval Chegar", e termina com "Na Carreira", que encerrava o balé "O
Grande Circo Místico". Cantam a arte feita na estrada, bem
diferente da reclusão das temporadas literárias de Chico.
O par formado por "Bye Bye
Brasil" e "Cantando no Toró"
(25ª e 26ª músicas) completa o
painel da vida mambembe.
Terceira do show, "Dura na
Queda" se liga ao teatro por ter
sido feita para o musical
"Crioula" e ao Rio pelo balanço
de gafieira. Dedicada a Elza
Soares, ainda faz par com a seguinte, "O Futebol", que tem
Garrincha, marido da cantora,
como um dos homenageados.
Bloco amoroso
Depois de "Morena de Angola", em que faz o gracejo de tocar calimba (caixinha de madeira cujo som lembra o de um
chocalho), Chico apresenta um
bloco romântico-onírico de
cinco músicas que estão no novo CD. É o início da fase "sentada" do show, pois as primeiras e
últimas canções ele interpreta
em pé, sempre com o violão -a
exceção é "Grande Hotel", em
que divide o tamborim e o canto com o baterista e parceiro
Wilson das Neves.
O bloco amoroso se liga a um
de artes cênicas graças a "Mil
Perdões", feita para "Perdoa-me por me Traíres", o filme baseado na peça de Nelson Rodrigues. Outro blues, "A História
de Lily Braun", vem antes de "A
Bela e a Fera" -ambas de "O
Grande Circo Místico"- e de
"Ela É Dançarina". O cinema,
então, é exaltado nas novas "As
Atrizes" e "Ela Faz Cinema".
O clima de bossa nova suingante da segunda é a chave para
um grupo de músicas que têm o
Rio como paisagem. A última,
"Bolero Blues", parceria com o
baixista Jorge Helder, se casa
bem com "As Vitrines", ambas
sobre um homem que não alcança a mulher sonhada.
"Subúrbio", que elenca bairros do "outro lado" da cidade
maravilhosa e cita o alarido do
funk e do rap, contrasta com
"Morro Dois Irmãos", diálogo
com a montanha imponente da
zona sul.
Os diferentes Rios desembocam em "Futuros Amantes".
"Na Carreira" fecha o show depois do xote-rap "Ode aos Ratos", parceria com Edu Lobo
também feita para o palco. No
bis, Chico cai no samba. Ou melhor, a platéia cai, enquanto ele
canta "Sem Compromisso",
"Deixe a Menina" e "Quem Te
Viu, Quem Te Vê". É hora de o
recital dar lugar à festa.
CARIOCA
Quando: de hoje a 15/10 (qui., às
21h30; sex. e sáb., às 22h; dom., às
19h)
Onde: Tom Brasil Nações Unidas (r.
Bragança Paulista, 1.281, tel. 0/xx/
11/ 2163-2000)
Quanto: entre R$ 80 e R$ 160
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