São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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Rio vê "babilaques" de Waly Salomão

Corruptela de badulaques, palavra é usada para anotações "poético-visuais" do artista

Exposição mostra fotos de páginas dos cadernos de Salomão, além de DVDs gravados por filhos dele e de filme feito com José Simão

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

"Onde estão os babilaques?", ouviu Waly Salomão (1943-2003) de policiais no Carandiru, onde ficou preso por porte de maconha. A palavra, corruptela de "badulaques" significando documentos ou outras coisas que a pessoa esteja guardando, foi registrada pelo poeta em "Me Segura que'eu Vou Dar um Troço" (1972), livro que escreveu após sair da cadeia, e batizou "performances poético-visuais" realizadas de 1975 a 77 em Nova York, Rio e Salvador.
Até hoje muito pouco conhecidas, as séries serão exibidas a partir de sábado, no Oi Futuro, no Rio, na mostra "Waly Salomão: Babilaques, Alguns Cristais Clivados", título que o próprio artista queria dar ao conjunto desses trabalhos.
Cada babilaque é uma foto de uma página de um dos muitos cadernos de espiral preenchidos por Salomão. Na maior parte das folhas, ele escrevia palavras, poemas e textos em prosa, sempre com inventividade visual. Eram trocadilhos, letras transformadas em signos, emulações da poesia concreta, além de construções puramente visuais, sem uma palavra sequer.
"Ele não chamava de poemas visuais, e eu concordo. Os chamados poemas visuais contêm palavras, mas nem sempre têm poesia", diz o curador Luciano Figueiredo, amigo de Salomão que dividiu com ele experiências plásticas nos anos 70.
Embora nunca tenha sido chamado de artista plástico, Salomão tinha uma formação muito consistente nesse campo. Entre os babilaques, há duas referências ao holandês Piet Mondrian (1872-1944): "Mondrian Barato" e "Under the Bare Tree", esta um jogo de linhas e cores feito só com papel e canetas.
"Os babilaques são uma operação muito lúdica e lírica do Waly. A produção dele entre 71 e 73 era muito trágica. Nesse outro momento, ele brinca com canetas, cadernos, frases do cotidiano", diz Figueiredo.
Um exemplo é "Mar - E As Sereias Desaparecendo por Falta de Estímulo", em que recortou uma curva do símbolo da Coca-Cola -que fica parecendo um peixe- e a sílaba "mar" de "marca registrada".
Mas há um babilaque trágico: "Torpedo Suicida", homenagem ao poeta Torquato Neto (1944-1972), grande amigo.
"Os trabalhos de Waly se dão, como ele dizia, "na esfera da produção de si mesmos". É a absolutização da subjetividade numa época em que ainda era complicado afirmar algo que não estivesse atrelado às esquerdas culturais", diz Figueiredo, lembrando que os babilaques tiveram pouca recepção na época das hegemonias da literatura e das artes plásticas.
A exposição terá 90 fotografias das 21 séries, além de dois DVDs preparados pelos filhos de Waly (Omar e Khalid) -com imagens do pai e dos cadernos- e do super-8 "Alfa Alfavela Ville", feito por ele e José Simão, hoje colunista da Folha.


WALY SALOMÃO: BABILAQUES, ALGUNS CRISTAIS CLIVADOS
Quando:
de sábado (1/9) a 14/10; ter. a dom., de 11h às 20h
Onde: Oi Futuro (r. Dois de Dezembro, 63, Flamengo, 0/ xx/21/3131-3060)
Quanto: grátis


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