São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

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TELEVISÃO

Cineasta pioneiro dá aula em feira de rua em SP

"Produção de filmes forma cidadãos críticos", diz documentarista George Stoney, 92

Professor da NYU e ativista político a favor da TV comunitária passou duas semanas no país para ensinar jovens de baixa renda


DA REPORTAGEM LOCAL

Dez dias atrás, um velhinho vestindo camisa de mangas compridas abotoadas no pulso, calça social de cintura alta e boné dos "New York Yankees" fazia gestos de diretor de cinema no meio de uma feira de rua na Barra Funda, bairro de classe média baixa de São Paulo.
Quem "enquadrava" com as mãos carrinhos e sacolas de compras era George Stoney, 92, professor de cinema da NYU (Universidade de Nova York), pioneiro do documentário norte-americano e ativista político a favor das TVs comunitárias.
Stoney passou duas semanas no país, a convite do Instituto Criar, ONG fundada pelo apresentador de TV Luciano Huck que dá cursos gratuitos de técnicas de audiovisual para jovens de baixa renda. Naquela quinta-feira, conduzia uma turma de 30 alunos e ensinava técnicas de filmagem e "faro" para reconhecer boas histórias.
"O problema aqui é o contraste entre luz e sombra, que é muito grande", traduzia a intérprete, enquanto ele se protegia do sol sob uma barraca de frutas. Conversa com o vendedor. "Nós desafiamos os alunos a encontrarem histórias interessantes. Esse rapaz acabou de me dizer que quer aparecer no filme, para que sua namorada o reconheça e volte para ele. Você já tem uma história aí."
Danilo Lourenço Pinto, 19, "mas todo mundo me chama de "Gostoso'", afirma estar separado de Daiane, de quem ainda gosta. A razão da briga? "Por que é que mulher larga homem?", ele pergunta, de forma retórica. "Dinheiro, meu, sempre dinheiro", explica.
Stoney esteve no Brasil pela primeira vez nos anos 70, e diz ter trabalhado com o diretor de teatro Augusto Boal e com o educador Paulo Freire (1921-1997). Nos EUA, advogou pela criação da lei que garante a existência de TVs comunitárias a partir de taxas pagas pelos canais a cabo.
O diretor, que ministra o curso de "produção de documentários socialmente relevantes" na NYU, diz que seu interesse maior está em formar cidadãos. "Quando se envolvem na produção de filmes, os alunos percebem como eles sempre se aproximam da verdade, em vez de alcançar a verdade em si. Isso os torna mais críticos."


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