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Chaplin inspira terror de Mojica
José Mojica Marins,
cineasta criador do
personagem Zé do
Caixão, fala à Folha
sobre seu sucesso no
exterior, dificuldades
de filmar no Brasil e a
tristeza dos olhos de
Charles Chaplin
Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
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O cineasta José Mojica Marins, 62
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ALAIN FRESNOT
especial para a Folha
José Mojica Marins, 62, criador
do Zé do Caixão e diretor de inúmeros filmes dos mais variados gêneros, está em ótima forma à véspera de sua viagem à Europa.
Mojica tem muita história para
contar e as conta com o estilo característico desse paulista da Aclimação com primário completo.
Felizmente, educação formal nada tem a ver com inteligência. José
Mojica Marins é um mestre autodidata.
Se não consegue hoje condições
de filmar no Brasil, é prova de
quanto o cinema brasileiro é rico.
Tão rico que pode desperdiçar um
de seus melhores talentos.
Folha - Você está indo para a Europa. Fazer o quê?
José Mojica Marins - Eu estou
sendo homenageado, estou indo
para a Itália, Festival de Rimini,
depois para Barcelona. Nesse festival já ganhei vários prêmios, é só
de terror. Depois Amsterdã, na
Holanda. Há o interesse de palestras em faculdades de comunicação. Dar explicações sobre o nosso
cinema, nosso cinema artesanal.
Folha - Como começou o interesse nos Estados Unidos e na Europa
pelo seu trabalho?
Marins - O Glauber dizia nos
anos 60: "Daqui a 30 anos você será chamado de 'Coffin Joe'". De
fato o cara acertou em cima. O
Glauber me deu muita força em
Paris. Ele me deu vários endereços.
Quando eu fui para a Espanha, vários lugares me chamaram para filmar. Acabei não querendo fazer
porque eu era ainda, sei lá, muito
apegado às raízes aqui. Eu não
aproveitei as oportunidades que
ele me abriu. A partir de uma premiação, um jornalista, o André
Barcinski, foi para os EUA, levando minha fita debaixo do braço,
então fiquei sabendo que os americanos já estavam atrás de mim.
Folha - Por que você e o Ozualdo
Candeias, dois diretores personalíssimos e geniais, têm tão pouco
espaço de produção hoje?
Marins - No final dos anos 60, a
gente montava as produtoras, nascia a "Boca do Lixo". Era mais
prático você negociar, a "Boca"
estava cheia de distribuidores, e os
exibidores vinham. A gente estava
mais em contato com os caras. Era
a maneira certa de você fazer filmes sem sair perdendo, isso até os
grandes exibidores começarem a
cortar os independentes.
Cortaram os exibidores independentes que tinham cinco, dez
cinemas. Ou entravam na linha
dos caras ou eram cortados, quer
dizer, você não tinha saída. Eu fui
um homem que lutou pelo Collor.
Ele acabou com a cultura em geral,
mas o cinema acabou mais.
Folha - Qual o primeiro filme que
você se lembra de ter visto?
Marins - A primeira vez que eu
entrei no cinema fiquei assustado.
Com quatro, cinco anos, eu subi
na cabina e fui ver uma cena de
doença venérea. Era para ensinar,
eles mostravam doença porque tinha muita doença venérea e não
tinha cura para nenhuma.
Era fita científica, era documentário. Aquilo pra mim era um terror, o primeiro impacto que eu tive no cinema foi de doenças venéreas, aquilo me impressionou.
Folha - Qual o primeiro filme de
ficção, longa-metragem?
Marins - Penso que foi "O Garoto", do Chaplin, e de terror ficou marcado "Torres de Londres", com Boris Karloff, acho
que me impressionou. Há uma cena em que uma criança fica com a
mão no portão e ele fecha o portão.
Eu só me lembro dessa cena. Ela
me marcou e marcou meu personagem. O Zé do Caixão protege
muito as crianças.
Folha - Como foram suas primeiras experiências de produção?
Marins - Quando eu completei
nove anos, meu pai foi me dar uma
bicicleta. Eu não queria bicicleta,
eu quis a câmera de 8mm. Quando
eu ganhei a câmera, fiquei doido.
Eu era muito badalado porque
morava no cinema, e todo mundo
me puxava o saco para entrar de
graça. Eu falei: quero que vocês me
arrumem um saco de vermes de
goiaba. E eu fiz o meu juízo final da
maneira quente, da minha visão.
As pessoas chamaram o padre,
ele falou pro meu pai: seu filho sofre da cabeça. O velho não acreditou, me deu força.
Depois passei para o 16mm e a
gente fazia o filme, montava, mas
não sonorizava, ia para o interior.
Eu projetava o filme e levava uma
atriz, e íamos narrando e dublando ao vivo com um fundo musical.
O pessoal achava fantástico.
Alain Fresnot é diretor de "Ed Mort".
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