São Paulo, terça, 30 de setembro de 1997.



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ZÉ DO CAIXÃO
Diretor planeja parceria com o cineasta "cult" Roger Corman e acredita que já estamos no apocalipse
'Terror é não saber o amanhã', diz Mojica

especial para a Folha

Leia a seguir a continuação da entrevista.

Folha - Em que momento você acreditou que fosse viável fazer do cinema brasileiro um cinema forte?
Marins -
Eu acho que nós fizemos um bom cinema, um grande cinema, nos anos 60, 70. Quando acabou a Vera Cruz, a Multifilmes, a Maristela, parecia que tinha acabado tudo. Eu falei: "Não acabou, a gente tem que partir para o cinema cooperativa". O que seria cinema cooperativa? O ator trabalha, o técnico também, e recebem depois. Juntavam-se dois ou três elementos que tinham loja, davam uma coisa e se tornavam sócios.
Folha - Hoje você vive de quê?
Mojica -
- Ainda vivo de escrever para revista, para jornal, história em quadrinhos. Tenho participação na venda. Ganho alguma coisa com cinema, mas o que ganho dá pro cigarro. Na televisão a gente ganha algum troco. Faço televisão para divulgar o cinema. Ganho muito em performances.
Folha - O que o inspirou ao terror?
Mojica -
- Eu me inspirei nos olhos do Charles Chaplin. Chaplin pra mim é insubstituível, é o mestre dos mestres dentro da arte de fazer cinema. Quando eu via as fitas e via aquela criançada rir, eu não conseguia rir. Eu me apeguei muito àquele ditado que diz que os olhos são o espelho da alma.
Eu viajava nos olhos desse homem pra saber o que tinha por detrás de tudo aquilo, daquelas mímicas. Então eu vi o terror nesse homem, era angustiante, de uma tristeza infinita. Até hoje eu olho e vejo que não dá pra rir.
Folha - O que é o terror para você hoje?
Mojica -
- Terror é não saber o amanhã. É a pior coisa que pode acontecer na vida do ser humano, você sair de casa e não saber se volta. Nós estamos entregues a uma marginalidade fora de série que também está prejudicando o cinema, a cultura, o teatro. Eu acho que já estamos no apocalipse.
Folha - Você tem medo da morte?
Mojica -
- Olha, cheguei a não ter medo da morte no passado porque parecia que as coisas iam bem, se você me perguntasse eu diria que não tinha medo da morte. Hoje, por ter filhos menores, em razão dos meus próprios netos, uma coisa me traz muito medo da morte. Eu vou deixar netos e outras pessoas que me ajudaram. Não sei o que seria dessas pessoas, e minha preocupação é essa.
Folha - Em que projeto você está trabalhando?
Marins -
Estou devagar fazendo "O Olho do Portal", uma grande realização. Seria o final da trilogia começada por "À Meia Noite Levarei sua Alma", e "Esta Noite Encarnarei no seu Cadáver".
Devo me encontrar com Roger Corman, ele é o papa do cinema "cult". Ele se interessou pela fita, mas ele gostaria de fazer um filme novo. Aí eu passei essa idéia para o Roger: faço uma história aqui, levo para ele. Ele faz com a equipe dele, com os atores, técnicos, e eu também faço com atores e técnicos. Faço a dublagem em inglês, e ele, a dublagem em português. A mesma história em duas visões. Ele achou a idéia sensacional. Pode ser que isso aconteça em 98.



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