|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ZÉ DO CAIXÃO
Diretor planeja parceria com o cineasta "cult" Roger Corman e acredita que já estamos no apocalipse
'Terror é não saber o amanhã', diz Mojica
especial para a Folha
Leia a seguir a continuação da
entrevista.
Folha - Em que momento você
acreditou que fosse viável fazer do
cinema brasileiro um cinema forte?
Marins - Eu acho que nós fizemos um bom cinema, um grande
cinema, nos anos 60, 70. Quando
acabou a Vera Cruz, a Multifilmes,
a Maristela, parecia que tinha acabado tudo. Eu falei: "Não acabou,
a gente tem que partir para o cinema cooperativa". O que seria cinema cooperativa? O ator trabalha, o técnico também, e recebem
depois. Juntavam-se dois ou três
elementos que tinham loja, davam
uma coisa e se tornavam sócios.
Folha - Hoje você vive de quê?
Mojica - - Ainda vivo de escrever para revista, para jornal, história em quadrinhos. Tenho participação na venda. Ganho alguma
coisa com cinema, mas o que ganho dá pro cigarro. Na televisão a
gente ganha algum troco. Faço televisão para divulgar o cinema.
Ganho muito em performances.
Folha - O que o inspirou ao terror?
Mojica - - Eu me inspirei nos
olhos do Charles Chaplin. Chaplin
pra mim é insubstituível, é o mestre dos mestres dentro da arte de
fazer cinema. Quando eu via as fitas e via aquela criançada rir, eu
não conseguia rir. Eu me apeguei
muito àquele ditado que diz que os
olhos são o espelho da alma.
Eu viajava nos olhos desse homem pra saber o que tinha por detrás de tudo aquilo, daquelas mímicas. Então eu vi o terror nesse
homem, era angustiante, de uma
tristeza infinita. Até hoje eu olho e
vejo que não dá pra rir.
Folha - O que é o terror para você
hoje?
Mojica - - Terror é não saber o
amanhã. É a pior coisa que pode
acontecer na vida do ser humano,
você sair de casa e não saber se volta. Nós estamos entregues a uma
marginalidade fora de série que
também está prejudicando o cinema, a cultura, o teatro. Eu acho
que já estamos no apocalipse.
Folha - Você tem medo da morte?
Mojica - - Olha, cheguei a não
ter medo da morte no passado
porque parecia que as coisas iam
bem, se você me perguntasse eu
diria que não tinha medo da morte. Hoje, por ter filhos menores,
em razão dos meus próprios netos,
uma coisa me traz muito medo da
morte. Eu vou deixar netos e outras pessoas que me ajudaram.
Não sei o que seria dessas pessoas,
e minha preocupação é essa.
Folha - Em que projeto você está
trabalhando?
Marins - Estou devagar fazendo
"O Olho do Portal", uma grande
realização. Seria o final da trilogia
começada por "À Meia Noite Levarei sua Alma", e "Esta Noite
Encarnarei no seu Cadáver".
Devo me encontrar com Roger
Corman, ele é o papa do cinema
"cult". Ele se interessou pela fita,
mas ele gostaria de fazer um filme
novo. Aí eu passei essa idéia para o
Roger: faço uma história aqui, levo
para ele. Ele faz com a equipe dele,
com os atores, técnicos, e eu também faço com atores e técnicos.
Faço a dublagem em inglês, e ele, a
dublagem em português. A mesma
história em duas visões. Ele achou
a idéia sensacional. Pode ser que
isso aconteça em 98.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|