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ENTREVISTA
"É uma descida ao inferno", diz Myrick
Divulgação
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Eduardo Sanchez e Daniel Myrick, diretores de "A Bruxa de Blair" |
ALEXANDRE MARON
da Reportagem Local
Apesar de ser um dos autores
da idéia doentia de colocar três
jovens sofrendo numa floresta
por vários dias e de, com isso,
ter dirigido um dos filmes mais
assustadores dos últimos anos,
Daniel Myrick, 35, um dos dois
diretores de "A Bruxa de Blair",
tenta convencer a todos de que
é um cara convencional.
"Pensam que somos pessoas
soturnas, mas eu e Ed (Eduardo Sanchez, 30, co-diretor do
filme) somos só dois caras normais que fizeram um filme de
terror", disse Myrick à Folha,
por telefone, de seu escritório
na Flórida.
Antes de ganhar as capas de
revistas de cinema em todo o
mundo, além de "Time" e
"Newsweek", Myrick foi bartender e gravou vídeos institucionais para empresas, além de
alguns curtas-metragens com
amigos. "A experiência seminal de Ed com cinema foi
"Guerra nas Estrelas", e a minha, "Contatos Imediatos do
Terceiro Grau", o filme que me
fez querer fazer filmes", conta.
Na entrevista a seguir,
Myrick fala de seu filme, da forma que a tecnologia digital ajuda cineastas como ele e como
quebrou regras de ouro de
Hollywood e fez um filme que
rendeu US$ 138,4 milhões.
Folha - De onde surgiu a
idéia de "A Bruxa de Blair"?
Daniel Myrick - Ed e eu estávamos conversando sobre como não havia mais filmes de
terror que nos assustassem, como "O Iluminado" e "O Exorcista", ou documentários arrepiantes sobre OVNIs, narrados
por Leonard Nimoy, o sr.
Spock. Seria legal fazer um filme daqueles.
Folha - Como você define o
filme?
Myrick - "Blair" é um filme
caseiro de três pessoas descendo ao inferno. E, se você for ao
cinema só com a expectativa,
terá uma experiência inesquecível. Mas não mudará a sua vida, é apenas um filme de terror.
Deixe-o ser o que é.
Folha - O nome Blair vem
de lendas reais ou do nome
Linda Blair, a protagonista de
"O Exorcista"?
Myrick - Não tem nada a ver
com "O Exorcista". A irmã de
Ed estudou em uma escola em
Maryland chamada Blair.
Folha - E como será a continuação?
Myrick - Há a história de Elly
Kedward, a bruxa de Blair original, de 1785, e Rustin Parr, o
assassino em série que matou
sete crianças em 1941. Ambas
citadas no filme e no site.
Folha - E a continuação vai
se parecer com o original?
Myrick - Nossos próximos filmes serão mais tradicionais.
Mas aplicaremos a essência do
que fizemos em "Blair": o que
nos faz chorar ou rir. Os fundamentos que acho que Hollywood perdeu de vista. Eles pensam que dezenas de milhões de
dólares em efeitos fazem um
bom filme. Isso não é necessariamente verdade e nosso filme
é a prova.
Folha - George Lucas disse
em uma entrevista que o próximo gênio cineasta sairia de
uma garagem usando um
equipamento digital barato,
e vocês são algo parecido
com essa tendência.
Myrick - Não se pode parar o
processo criativo. As pessoas
encontram jeitos de fazer filmes, e a tecnologia digital coloca novas ferramentas nas mãos
dos cineastas. Com a Internet,
você não precisará da forma
usual de distribuição. Os Martins Scorseses que nunca tiveram a chance de dirigir um filme poderão fazer isso agora. É
muito excitante.
Folha - Vocês preferem permanecer no circuito independente ou nas produções
cheias de efeitos especiais?
Myrick - Nossa definição de
filmes independentes é fazê-los
nos nossos termos. George Lucas é independente, porque faz
filmes nos seus termos, mas
gasta milhões de dólares em
efeitos especiais. Isso não significa que nunca faremos uma
produção milionária. Há roteiros que adorei e que seriam
muito caros, porque é assim
que eles são. Mas, quando eu os
fizer, não quero ter um executivo de estúdio me dando ordens. Temos que traçar nosso
caminho até podermos fazer
um filme desses sem interferência.
Folha - Uma pesquisa indicou que as pessoas que assistiram ao filme sem conhecimento prévio do conteúdo o
odiaram, e que, quem leu artigos a respeito gostou mais.
O que você acha disso?
Myrick - Concordo. Acho que
esse filme é de um tipo em que
você precisa condicionar as
pessoas. Não é algo que já tenham visto. Se você for esperando por "Pânico" ficará desapontado. É importante que
as pessoas saibam o que o filme
é. Se elas forem ao cinema com
a mente aberta e alguma idéia
do que verão, vão se divertir.
Folha - O que você mais
gostou no filme e o que não
funcionou?
Myrick - Gosto da performance dos atores, nunca vi nada parecido. Não gosto das câmeras tremendo demais. Mas
isso ajuda o filme, torna-o desconfortável. Não queria que se
tornasse uma distração. Na
edição tentamos diminuir isso
um pouco.
Folha - Vocês sabem que no
próximo projeto haverá comparações.
Myrick - No próximo filme,
uma comédia chamada "Heart
of Love", tentamos evitar isso.
É por esse motivo que pensamos em uma comédia, que será
a mais estúpida e a mais politicamente incorreta possível. Se
não for bem, voltaremos ao terror. Mas é impossível evitar
comparações. "Blair" é um degrau e não uma catapulta para
uma carreira brilhante. Todos
os cineastas enfrentam isso em
seu segundo projeto.
Folha - Como vocês se sentem sendo milionários, com
um filme que arrecadou US$
138 milhões?
Myrick - Não sei ainda. Os
cheques chegam à minha mesa,
mas ainda não tive tempo de
gastá-los (risos).
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