São Paulo, Quinta-feira, 30 de Setembro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Mostra reúne 16 telas em São Paulo
Shiró volta a expor sua pintura visceral

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha

O sucessor de Iberê Camargo? O Francis Bacon brasileiro? A densidade e a dramaticidade das telas de Flavio-Shiró, que mostra trabalhos recentes a partir de hoje na galeria Nara Roesler, em São Paulo, falam por si.
Essa exposição marca a volta de Shiró à tinta à óleo, que ele deixou de usar desde a década de 80, após sofrer uma intoxicação por causa do material.
"O óleo é mais prazeroso, tem um brilho e uma profundidade que não se comparam aos da acrílica. Além disso é, de todas, a que envelhece melhor", explica o artista.
Foi no período da técnica mista, segundo ele, que atingiu os resultados mais elaborados de seu trabalho. Também foi quando veio o reconhecimento pelos 50 anos de trajetória artística, com retrospectivas no Masp, no Museu de Arte Moderna do Rio e no Museu Hara, em Tóquio.
Shiró conta ter ficado feliz com a acolhida que sua obra recebeu no Japão, país onde nasceu e viveu até os 4 anos, quando sua família mudou-se para Tomé-Açu, no Pará. "Disseram que um artista nipo-brasileiro teve de ir até lá para mostrar que a pintura não precisa ser decorativa nem bonita", diz.
Mais do que belas, suas telas são intrigantes. Figuras são sugeridas aqui e ali, cores se empastam e esvanecem nesse universo de agonia existencial. "Todo mundo quer entrar imediatamente na minha pintura, mas cada ângulo, cada momento gera percepções diferentes."
O processo de criação envolve a longa convivência do olhar com as telas. Sem nunca planejá-las, porque isso significaria perder o senso de aventura, Shiró costuma acordar curioso para ver o que fez e desfaz o trabalho caso não seja surpreendido.
Dividido entre os ateliês em Paris e no Rio de Janeiro, passa muito tempo sem ver algumas obras. "Deixo-as de lado até que me esqueça delas. Às vezes penso que acabei e descubro que não. Algumas telas têm duas datas por isso", conta.
Sobre a semelhança com Bacon, diz: "Acho que o lado visceral tem a ver. Mas é um outro mundo que eu pinto, um estado posterior àqueles acontecimentos retratados por Bacon. Nele, as situações passam-se dentro de um recinto. Minhas telas têm mais espaço e a presença humana tem nível de desencarnação que sugere essa passagem para outro mundo".


Exposição: Flávio-Shiró
Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 0/xx/11/3063-2344)
Quando: hoje, às 21h; seg. a sex.: 10h às 19h; sáb.: 10h às 14h. Até 24/10
Quanto: entrada franca; obras de US$ 9.900 a US$ 34,2 mil (óleo sobre tela de 50 cm x 60 cm a 130 cm x 250 cm)




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