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ARTES PLÁSTICAS
Mostra reúne 16 telas em São Paulo
Shiró volta a expor sua pintura visceral
JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
O sucessor de Iberê Camargo?
O Francis Bacon brasileiro? A
densidade e a dramaticidade
das telas de Flavio-Shiró, que
mostra trabalhos recentes a partir de hoje na galeria Nara Roesler, em São Paulo, falam por si.
Essa exposição marca a volta
de Shiró à tinta à óleo, que ele
deixou de usar desde a década
de 80, após sofrer uma intoxicação por causa do material.
"O óleo é mais prazeroso, tem
um brilho e uma profundidade
que não se comparam aos da
acrílica. Além disso é, de todas,
a que envelhece melhor", explica o artista.
Foi no período da técnica mista, segundo ele, que atingiu os
resultados mais elaborados de
seu trabalho. Também foi quando veio o reconhecimento pelos
50 anos de trajetória artística,
com retrospectivas no Masp, no
Museu de Arte Moderna do Rio
e no Museu Hara, em Tóquio.
Shiró conta ter ficado feliz
com a acolhida que sua obra recebeu no Japão, país onde nasceu e viveu até os 4 anos, quando sua família mudou-se para
Tomé-Açu, no Pará. "Disseram
que um artista nipo-brasileiro
teve de ir até lá para mostrar que
a pintura não precisa ser decorativa nem bonita", diz.
Mais do que belas, suas telas
são intrigantes. Figuras são sugeridas aqui e ali, cores se empastam e esvanecem nesse universo de agonia existencial.
"Todo mundo quer entrar imediatamente na minha pintura,
mas cada ângulo, cada momento gera percepções diferentes."
O processo de criação envolve
a longa convivência do olhar
com as telas. Sem nunca planejá-las, porque isso significaria
perder o senso de aventura, Shiró costuma acordar curioso para ver o que fez e desfaz o trabalho caso não seja surpreendido.
Dividido entre os ateliês em
Paris e no Rio de Janeiro, passa
muito tempo sem ver algumas
obras. "Deixo-as de lado até que
me esqueça delas. Às vezes penso que acabei e descubro que
não. Algumas telas têm duas datas por isso", conta.
Sobre a semelhança com Bacon, diz: "Acho que o lado visceral tem a ver. Mas é um outro
mundo que eu pinto, um estado
posterior àqueles acontecimentos retratados por Bacon. Nele,
as situações passam-se dentro
de um recinto. Minhas telas têm
mais espaço e a presença humana tem nível de desencarnação
que sugere essa passagem para
outro mundo".
Exposição: Flávio-Shiró
Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 0/xx/11/3063-2344)
Quando: hoje, às 21h; seg. a sex.: 10h às 19h; sáb.: 10h às 14h. Até 24/10
Quanto: entrada franca; obras de US$ 9.900 a US$ 34,2 mil (óleo sobre tela de
50 cm x 60 cm a 130 cm x 250 cm)
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