UOL


São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Moacyr Luz puxa safra de trabalhos "de raiz" com Leci Brandão, Fundo de Quintal e Quinteto em Branco e Preto

CDs desfilam trunfos e fragilidades do samba

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro novos discos de samba expõem as razões da sobrevivência do gênero no ambiente adverso da atual MPB. E alternam com elas seus pontos de fraqueza, colaboradores para a relativa marginalização que a mesma MPB lhes impõe.
O puxador de ala dessa leva é "Samba da Cidade", do carioca Moacyr Luz, 45, que se destaca na safra pelo valor extremo que concede às letras de seus sambas. Ele convoca parceiros de massa, como Paulo César Pinheiro, Martinho da Vila, Aldir Blanc, Nei Lopes, Wilson Moreira, Luiz Carlos da Vila e, na comovente "Tudo que Eu Vivi", Wilson das Neves.
Com eles, a voz de meia geração e sem ambição de Moacyr se eleva aos céus do velho samba, de quando o texto era imprescindível para compor as crônicas de subúrbio, a melancolia amorosa e os poemas de fervor que constituíam o oxigênio do samba.
Hoje, o rap parece ter capturado do samba esse saber, substituindo-o naqueles objetivos com poder poético muito reduzido. O samba, na travessia, ficou perdido e perplexo. É o que se nota, por exemplo, nos CDs de Leci Brandão ("A Cara do Povo") e do Fundo de Quintal ("Festa pra Comunidade"), condutores da última geração forte do dito pagode.
Leci, 59, faz recordar a grande voz que tem e seus antigos picos de ousadia de repertório (como em "Neguinho Poeta", que já foi hino samba-rock com Bebeto). Mas os desperdiça por certa indecisão estilística e em letras que ficam oscilando em torno da banalidade. O afro-samba de roda e o poderoso senso rítmico são os salvadores da pátria do Fundo de Quintal -a narrativa, mais uma vez, bóia na falta de assunto.
Uma promessa alternativa é apontada, então, pelo Quinteto em Branco e Preto, grupo que reúne os mais jovens dos artistas aqui citados. Radicados em São Paulo e apadrinhados por Beth Carvalho, os rapazes chegam a discorrer sobre militância sambista ("Acendeu a Vela") e racismo ("Não Sou Pai João").
Investem, assim, em terreno que hoje o rap domina com desenvoltura. São bem mais tímidos, sofrem dos baques que vêm há muito fragilizando o samba. Mas querem encontrar caminhos, como o próprio samba quer.


Samba da Cidade    
Artista: Moacyr Luz
Lançamento: Lua Discos
Quanto: R$ 28, em média

Sentimento Popular    
Grupo: Quinteto em Branco e Preto
Lançamento: CPC Umes
Quanto: R$ 28, em média

A Cara do Povo   
Artista: Leci Brandão
Lançamento: Indie Records
Quanto: R$ 28, em média

Festa pra Comunidade   
Grupo: Fundo de Quintal
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 28, em média



Texto Anterior: "Esquire" aos 70: O melhor da melhor
Próximo Texto: Memória: Realizações e polêmica perpetuam Kazan
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.