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MÚSICA
Moacyr Luz puxa safra de trabalhos "de raiz" com Leci Brandão, Fundo de Quintal e Quinteto em Branco e Preto
CDs desfilam trunfos e fragilidades do samba
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro novos discos de
samba expõem as razões da
sobrevivência do gênero no ambiente adverso da atual MPB. E alternam com elas seus pontos de
fraqueza, colaboradores para a relativa marginalização que a mesma MPB lhes impõe.
O puxador de ala dessa leva é
"Samba da Cidade", do carioca
Moacyr Luz, 45, que se destaca na
safra pelo valor extremo que concede às letras de seus sambas. Ele
convoca parceiros de massa, como Paulo César Pinheiro, Martinho da Vila, Aldir Blanc, Nei Lopes, Wilson Moreira, Luiz Carlos
da Vila e, na comovente "Tudo
que Eu Vivi", Wilson das Neves.
Com eles, a voz de meia geração
e sem ambição de Moacyr se eleva
aos céus do velho samba, de
quando o texto era imprescindível para compor as crônicas de
subúrbio, a melancolia amorosa e
os poemas de fervor que constituíam o oxigênio do samba.
Hoje, o rap parece ter capturado
do samba esse saber, substituindo-o naqueles objetivos com poder poético muito reduzido. O
samba, na travessia, ficou perdido
e perplexo. É o que se nota, por
exemplo, nos CDs de Leci Brandão ("A Cara do Povo") e do Fundo de Quintal ("Festa pra Comunidade"), condutores da última
geração forte do dito pagode.
Leci, 59, faz recordar a grande
voz que tem e seus antigos picos
de ousadia de repertório (como
em "Neguinho Poeta", que já foi
hino samba-rock com Bebeto).
Mas os desperdiça por certa indecisão estilística e em letras que ficam oscilando em torno da banalidade. O afro-samba de roda e o
poderoso senso rítmico são os salvadores da pátria do Fundo de
Quintal -a narrativa, mais uma
vez, bóia na falta de assunto.
Uma promessa alternativa é
apontada, então, pelo Quinteto
em Branco e Preto, grupo que
reúne os mais jovens dos artistas
aqui citados. Radicados em São
Paulo e apadrinhados por Beth
Carvalho, os rapazes chegam a
discorrer sobre militância sambista ("Acendeu a Vela") e racismo ("Não Sou Pai João").
Investem, assim, em terreno
que hoje o rap domina com desenvoltura. São bem mais tímidos, sofrem dos baques que vêm
há muito fragilizando o samba.
Mas querem encontrar caminhos,
como o próprio samba quer.
Samba da Cidade
Artista: Moacyr Luz
Lançamento: Lua Discos
Quanto: R$ 28, em média
Sentimento Popular
Grupo: Quinteto em Branco e Preto
Lançamento: CPC Umes
Quanto: R$ 28, em média
A Cara do Povo
Artista: Leci Brandão
Lançamento: Indie Records
Quanto: R$ 28, em média
Festa pra Comunidade
Grupo: Fundo de Quintal
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 28, em média
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