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MEMÓRIA
Diretor fundamental para uma geração de atores de Hollywood defendeu delação como "fidelidade a si mesmo"
Realizações e polêmica perpetuam Kazan
DO "NEW YORK TIMES"
As realizações no teatro e no cinema de Elia Kazan, que morreu
anteontem em Manhattan, aos 94
anos, ajudaram a definir a experiência norte-americana, para
mais de uma geração.
Para muitos críticos, ele foi o
melhor diretor de atores de cinema e teatro norte-americanos na
história, tendo descoberto Marlon Brando, James Dean, Warren
Beatty e redefinido a arte da interpretação cinematográfica. Foi um
dos fundadores, e por muito tempo diretor, do Actors Studio; fundou também, com Robert Whitehead, o primeiro grupo de teatro
de repertório no Lincoln Center;
participou do famoso Group
Theater, nos anos 30; era o diretor
predileto de toda uma geração de
novos dramaturgos norte-americanos, incluindo os dois mais importantes, Tennessee Williams e
Arthur Miller; e, na velhice, se tornou um romancista de sucesso.
Recebeu dois prêmios Tony como diretor e, em Hollywood, sete
dos filmes de Kazan conquistaram um total de 20 Oscars. Ele recebeu o Oscar de direção por "A
Luz é Para Todos", um manifesto
anti-semita de 1947, e por "Sindicato de Ladrões", em 1954.
Kazan também recebeu um Oscar honorário pelas realizações de
sua carreira, em 1999, quando
Martin Scorsese e Robert De Niro
o elogiaram copiosamente, e De
Niro o classificou como "o mestre
de uma nova fé comportamental e
psicológica no trabalho do ator".
O prêmio gerou controvérsias
porque, em 1952, Kazan atraiu a
ira de muitos de seus amigos e colegas ao admitir, perante o Comitê de Atividades Antiamericanas,
que fora membro do Partido Comunista entre 1934 e 1936, e por
ter revelado os nomes de oito outros membros do partido.
O Group Theater, no qual participava nos anos 30, continha uma
célula comunista secreta, da qual
Kazan fez parte por quase dois
anos. Mas quando o Partido Comunista norte-americano ordenou que a célula tomasse o controle do grupo, Kazan se recusou.
Em uma reunião especial, foi denunciado como "capataz" bajulando os patrões, e foi instruído a
se retratar e a se submeter à autoridade do partido. Em lugar de fazê-lo, ele abandonou os comunistas e escreveu mais tarde que essa
experiência lhe ensinara "tudo
que eu precisava saber sobre o
Partido Comunista dos EUA e sua
maneira de operar".
Dezessete anos mais tarde,
quando chamado a depor diante
do Comitê de Atividades Anti-Americanas da Câmara, Kazan
inicialmente se recusou a acusar
seus colegas. Mas os magnatas de
Hollywood o aconselharam a mudar de idéia, para não destruir sua
carreira. A decisão que tomou lhe
custou muitos amigos. Anos mais
tarde, Kazan expressou dúvidas.
"Agi de maneira correta", escreveu. "Mas agi certo?"
Kazan declarou igualmente que
o grande sucesso de "Sindicato de
Ladrões" pôs fim ao seu medo de
que sua carreira corresse perigo.
"De repente, ninguém mais se incomodava com minha posição
política, ou que eu fosse controverso, ou difícil. Depois de "Sindicato", eu podia fazer o que quisesse. Hollywood é assim".
Questionado sobre os motivos
de sua denúncia de colegas, ele
mencionou "um raciocínio capcioso que silenciou muitos liberais", que expôs assim: "Você pode odiar os comunistas, mas não
deve atacá-los, porque dessa maneira estaria atacando o direito de
manter opiniões impopulares. O
ato "horrível e imoral" que eu pratiquei foi motivado por minha fidelidade a mim mesmo".
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