São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2011 |
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CRÍTICA DRAMA 'Trabalhar Cansa' tem algo a dizer, mas peca pela falta de um projeto definido INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA "Trabalhar Cansa" é um título que sugere comédia, coisa que o filme em questão nem de longe é. Pode-se tentar defini-lo, antes, como um filme de busca. A trama não é propriamente original: ela cruza as histórias de um homem que perde o emprego no mesmo instante em que sua mulher abre um pequeno supermercado -um desses destinados a serem engolidos pelas grandes redes ou ir à falência. Ambos terão pela frente fartas dificuldades, é óbvio, centradas talvez nas duas figuras mais importantes na vida da classe média: a filha e a empregada. Poderemos pagar a escola? Poderemos manter a empregada? Essas duas questões, note-se, não são formuladas explicitamente no filme: nós as inferimos da sucessão de imagens, da importância que esses personagens ocupam durante a crise familiar. Então "Trabalhar Cansa" começa por não ser um desses filmes que verbalizam tudo: faz-se junto ao espectador. Um sopro de modernidade no jovem cinema paulista. De resto, os autores, em vez de se afundarem no habitual drama psicológico-novelesco, buscam outras saídas, mais interessantes. Por um lado, o supermercado nos projeta num ambiente de mistério vizinho ao terror. Como se, em vez de se fixar em fatos reais, "Trabalhar Cansa" enveredasse pelos fantasmas de sua proprietária. Por outro, a situação do marido é o contraponto mais palpável desse horror. Também a interpretação dos atores busca se desviar do naturalismo do nosso "cinema industrial", buscando uma neutralidade que evoca o cinema de Robert Bresson. Nesse particular o filme é desigual, alternando momentos em que a neutralidade é efetiva com outros em que os atores parecem pouco convencidos do método. Se é possível dizer que o drama da mulher acaba tendo mais interesse do que o do marido, também se pode dizer que esse desequilíbrio é compensado pela cena final do marido, muito forte. Em poucas palavras, "Trabalhar Cansa" é um filme que, mesmo se ainda não tem definido um projeto claro, aponta para algo de novo e com algo a dizer, mas que ainda não parece ter tomado sua forma final. A conferir. TRABALHAR CANSA DIREÇÃO Juliana Rojas e Marco Dutra PRODUÇÃO Brasil, 2011 COM Helena Albergaria, Marat Descartes ONDE nos cines Frei Caneca, Reserva Cultural e circuito CLASSIFICAÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO regular Texto Anterior: Crítica/Comédia: Convencional e previsível, filme chafurda na mesmice Próximo Texto: Paris aguarda anúncio de Jacobs na Dior Índice | Comunicar Erros |
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