São Paulo, quarta, 30 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA
Giordano lança o romance de cavalaria "Tirant lo Blanc', considerado o maior clássico da língua catalã
"Quixote da Catalunha' chega ao Brasil

Gravura mostra cena de um combate entre cavaleiros medievais JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Cinco séculos depois de sua primeira publicação, em 1490, chega finalmente à língua portuguesa o caudaloso "Tirant lo Blanc", de Joanot Martorell.
O livro -que está sendo lançado no Brasil pela Giordano, em tradução do próprio editor, Cláudio Giordano- é considerado o maior clássico da literatura catalã e um dos pontos altos do romance de cavalaria.
"Tirant" está para a língua catalã como "Don Quixote" (1605-15) está para a castelhana. Curiosamente, o romance de Martorell é citado por um personagem do clássico de Cervantes como "o melhor livro do mundo", "tesouro de satisfação e mina de passatempos".
Tirant lo Blanc, o personagem, é um nobre da Bretanha (noroeste da França) que, depois de aprender os segredos da cavalaria na Inglaterra com o velho herói Guillem de Varoic (forma catalã de William of Warwick), participa de lutas contra os mouros e os turcos na Europa e no norte da África.
Sua última vitória -a expulsão dos turcos de Constantinopla e a restauração do Império Grego- coincide com a conquista de sua grande amada, a princesa Carmesina, filha do imperador da Grécia.
Essa trajetória heróica e galante é narrada com riqueza de detalhes e digressões, em 850 páginas. Para os estudiosos, o livro de Martorell contrasta com o romance de cavalaria tradicional por sua abordagem mais realista, quase prosaica.
Como já notava aquele mesmo personagem de Cervantes, no "Tirant" "os cavaleiros comem, dormem e morrem em suas camas e fazem testamento antes de sua morte". No livro de Martorell não há dragões, fadas ou poções mágicas. Apenas feitos heróicos -exagerados, mas não sobrenaturais.
Para o escritor peruano Mario Vargas Llosa, ardoroso admirador da obra e autor do texto que serve de introdução à edição brasileira, outras marcas do "Tirant" são o erotismo e a verborragia.
As cenas amorosas, de fato, são de uma crueza pouco comum na literatura medieval. Quanto à verborragia, não há o que contestar: todos falam pelos cotovelos no romance. Os diálogos ou monólogos ocupam às vezes páginas inteiras, frequentemente interrompendo a ação em um ponto culminante.
Quando resolveu traduzir o "Tirant lo Blanc", o editor Cláudio Giordano tinha à sua frente duas possibilidades: fazer uma versão condensada e adaptada à linguagem de nossos dias ou verter o livro em sua integridade.
"Optei pelo segundo caminho, mantendo inclusive as redundâncias que algumas traduções para outras línguas eliminaram", disse o editor à Folha. "Quanto à linguagem, afastei a idéia de modernizá-la, porque acho que soaria falso e também porque eu sou meio arcaico, mesmo."
Giordano, que diz nunca ter aprendido catalão, define seu trabalho como "o esforço de um amador". O editor dedicou dois anos à tradução do livro, apoiando-se em sua sólida formação linguística (grego clássico, latim, francês, inglês e italiano) e tendo à mão traduções do "Tirant" para o espanhol, o francês e o inglês.
Com o apoio do Ministério da Cultura da Espanha e do governo regional da Catalunha, imprimiu 1.500 exemplares da obra, que já estão nas livrarias de São Paulo e começam a ser distribuídas para os outros Estados.
²
Livro: Tirant lo Blanc Autor: Joanot Martorell Tradução: Cláudio Giordano Editora: Giordano (tel. 011/829-9369) Preço: R$ 48 (857 págs.)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.