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CRÍTICA
Álbum é um tratado de pequenas belezas
DA REPORTAGEM LOCAL
Num ambiente em que música e letra se encontram cada
vez mais brutalizadas, "São Paulo
Rio", de Zé Miguel Wisnik, chega
a causar estranhamento, em primeiras audições, tal é seu grau de
elaboração.
Isso bate em uma questão crucial para artistas como Wisnik:
como se fazer ouvir, quando se está diante dos preconceitos do
mercado contra a sofisticação, o
virtuosismo, a independência, até
contra a sempre contundida vanguarda paulista?
Ele tem razão ao refutar tal cisão
e classificar seu disco como popular, feito de sambas e choros e
canções fluentes. O problema
-de torná-lo visível e audível-
segue adiante, e "São Paulo Rio"
não sabe como evitar esse impasse entre o discurso abrangente e
os fatos restritivos.
Exemplo é a eloquente faixa-título, que prega, por poesia e metáfora, a necessidade de Rio e São
Paulo se aceitarem e se complementarem melhor. As palavras
ardem, as cidades seguem rivais.
À margem dos impasses, o disco evolui como um tratado de pequenas belezas, que passeiam por
tangos, sambas, tropicálias e canções tristes, pela participação impetuosa de Elza Soares e as interpretações límpidas de Jussara Silveira.
O próprio Wisnik evolui como
cantor, embora ainda nutrindo
obsessão pelas palavras, que pronuncia de modo rigoroso, quase
geométrico.
Tem-se, ao fim, produto musical de altos teores e bastante intimista ("Viúvo" e "Por um Fio"
são bons exemplos), que diz bastante sobre o autor, fincado num
difícil fulcro que intercala música
popular e cultura erudita, arte e
ciência, comunicação e incomunicabilidade. Que ele solte a voz, e
que apareçam os ouvintes.
(PAS)
São Paulo Rio
Bom
Artista: Zé Miguel Wisnik
Lançamento: independente
Quanto: R$ 18,90 (à venda no site
www.ultimosegundo.com.br/wisnik)
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