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Artistas sofrem boicote após campanhas
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nos começo da campanha do
segundo turno para a Prefeitura
de São Paulo, Beto Magnani, ator
e co-produtor de "Suburbia", de
Eric Bogosian, convidou Samantha Monteiro para um papel.
"Ela aceitou na hora e me disse
que não poderia começar a ensaiar em outubro, pois estava na
campanha do Maluf. Fiquei mudo. Não sabíamos. Ela percebeu
que fiquei chocado, se justificou,
disse que o dinheiro era bom."
"Eu estava me policiando para
não perseguir uma atriz. Ela
apoiava um candidato em uma
democracia, mas não queríamos
que a peça ficasse conhecida como a peça da garota do Maluf."
Há dois momentos na história
das campanhas. Nos anos 80, predominava o discurso ideológico.
Partidos e frentes, recém-criados
na jovem democracia, desenhavam uma "personalidade" com
depoimentos de famosos.
Malufistas históricos, como Hebe Camargo, e petistas históricos,
como Antônio Fagundes, davam
voz aos partidos. A partir dos
anos 90, o marketing político se
profissionalizou, priorizando rumos dados por pesquisas quantitativas e qualitativas ("qualis").
"Depoimentos de celebridades
foram reduzidos. O testemunhal
tem baixa credibilidade nas classes baixas e não agrega votos em
certas campanhas. O eleitor sabe
que o artista não é o candidato",
diz Rui Falcão, coordenador da
campanha do PT em São Paulo.
Nasceram as personagens com
falas calculadas, seguindo indicações das "qualis": os profissionais
de campanha. Muitos dos que trabalharam em campanhas conservadoras, como as de Collor e Maluf, tiveram um revés na carreira.
A atriz Helen Helene protagonizou a campanha de Maluf para
prefeito, em 92. Depois, perdeu
trabalhos e foi estigmatizada. "Eu
não tinha noção do que me aconteceria. Estamos num país que
trata mal os atores. Viver do trabalho é difícil. Um ator pega um
trabalho como um dentista atende a um cliente, sem perguntar
sua ideologia", diz.
"É um preço alto que se paga,
porque confundem o ator com o
produto. Eu não era malufista, era
do PSDB e já tinha feito trabalho
para o PT em locuções de rádio.
Acho que fiz um belo trabalho,
abri portas para outros atores."
Alguns não tiveram a carreira
prejudicada, como o grupo vocal
Fat Family que, no passado, apareceu numa campanha malufista;
a Folha apurou que um empresário os levou para a campanha,
sem informar de quem era.
Hoje, fazem de 10 a 12 shows
mensais e preparam o terceiro CD
para 2001. Sônia Cipriano, atual
empresária do grupo, defende o
ideal "pagou-levou".
"É um trabalho. Se o contato é
feito por empresários e o cachê é
bom, pronto. Se for bom para todos, o grupo vai e faz a campanha.
Tivemos vários contatos."
"Mefisto. É essa a imagem que
me vem. As pessoas esperam que
uma atriz da estirpe da Samantha
tenha um discurso mais progressista. O problema é que a campanha do Maluf foge dos padrões de
conduta, é fora dos limites. O ator
tem uma imagem que influencia",
completa Falcão.
"Com quem está o discurso autoritário? Com aqueles que não
permitem a discordância. As pessoas têm o direito de exercer o seu
trabalho", diz José Maria Braga,
coordenador de marketing da
campanha de Maluf.
"Pensam que estamos vendendo a alma? Especializei-me em recuperação de imagens. Até meus
amigos ficaram chocados quando
souberam que eu trabalhava para
o Maluf", afirma Braga.
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