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ARTIGO
Globo viveu perigosamente
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
A Globo desceu ao purgatório na tentativa de queimar
dos seus arquivos, em uma espécie de incêndio cívico proposital,
um passado cuja traquinagem
mais emblemática dos seus prestidigitadores foi a edição do debate entre Fernando Collor de Mello
e Luiz Inácio Lula da Silva, em 89.
Na campanha eleitoral, foi atacada não mais pelo PT do presidente eleito -nos comitês do
partido sobraram perdão e elogios-, mas por um choroso PFL,
inconformado com o incansável
replay da dinheirama da Lunus,
caso fatal para a pré-candidatura
de Roseana Sarney, a "número 1".
Nesse momento, os aliados de
Roseana insinuaram que a Globo
estava a serviço da sua velha vocação governista, desta feita na
companhia de José Serra. Sabatinado, mais tarde, pelo casal William Bonner e Fátima Bernardes,
no "Jornal Nacional", o tucano foi
acossado por perguntas nunca
dantes feitas a candidatos oficiais.
Na rotina do "JN", uma agenda
fria, com tempos iguais para Lula,
Serra, Ciro e Garotinho. As falas,
quase sempre, ao sabor do chuchu que predominava nas entrevistas coletivas. A não ser que o
candidato insistisse mesmo em
boutades à quente, como Ciro.
O congelador do noticiário, no
qual não cabiam gafes ou democráticos ataques aos adversários,
foi uma linha auxiliar dos marqueteiros -"o que é bom a gente
mostra, o que é ruim a gente esconde". Parabólica para todos.
Estava embutido aí, uma vez
que a pessoa jurídica em questão
também tem inconsciente, a síndrome de 89. Em um ano delicado
para as Organizações Globo: a família Marinho havia recorrido a
empréstimos no balcão governista do BNDES. Operação que contou com o silêncio petista.
Mais adiante, na semana da eleição em primeiro turno, outro lance complicado, quando o lobby
global triunfou com a edição de
uma medida provisória, obra de
FHC, que regulamentou a participação do capital estrangeiro nas
empresas de comunicação. O coro dos contrários calou. O resto é
indecifrável. A Globo foi isenta,
como louva um anúncio, ou
adaptou, em transição avexada e
autoprotetora, o seu código de
bom-tom ao novo possível poder?
O maior enigma, no entanto, foi
soprado pelo empresário Antonio
Ermírio de Moraes, à Folha: "A
saída do ex-presidente da Petrobrás Philippe Reichstul da Globo
é um mau sintoma para Serra.
Desmontou a máquina. Entendi
que estava montado um esquema
de apoio a ele". Pelo bem ou pelo
mal, códigos do purgatório, este
ano a Globo viveu um ano e tanto.
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