São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVRO

Volume reúne entrevista e fotos do cineasta

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Talvez não se conheça Amos Gitai apenas por seus filmes. Ou por sua história pessoal. Em todo caso, a premissa de "Amos Gitai", belo volume editado pela CosacNaify em conjunto com a Mostra, é que um e outro se encontram.
Se Gitai é hoje um cineasta central para a compreensão do mundo em que estamos, é, em parte, porque é israelense, ou seja, vive no centro do conflito dos conflitos contemporâneos.
Mas ser israelense pode significar muita coisa. Aí entra a história pessoal, na detalhada entrevista feita por Serge Toubiana, ex-diretor de redação da revista "Cahiers du Cinéma".
A história de Gitai passa pela imigração dos pais para a Palestina antes de Israel existir (a história, no mais, é contada no belo "Berlim-Jerusalém"), tanto quanto pelo flerte com a arquitetura (o próprio pai era arquiteto da Bauhaus), passando pelo hábito adquirido quase inadvertidamente de realizar filminhos em super-8, que o levariam ao documentário "House", de 1980, e aos problemas dele derivados.
Os estudos nos Estados Unidos, assim como os anos que foi forçado a passar na França, forjaram aos poucos sua personalidade de artista contemporâneo e homem engajado no conflito palestino-israelense (pelo lado da paz).
Enquanto as primeiras cem páginas do livro são dedicadas a fotos dos filmes de Gitai, a segunda parte concentra a formação da sensibilidade que levaria o cineasta às escolhas estéticas e políticas que fez (sem esquecer sua participação, como soldado, na guerra de 1973, que reconstituiria em "O Dia do Perdão").
Nos documentários realizados fora de Israel, no mais, Gitai como que reafirma uma tendência capital de seus filmes (de ficção ou documentário): a capacidade de abrir-se ao outro, de liberar-se de preconceitos, de buscar a imagem mais objetiva de um evento ou de uma pessoa -independente de seu engajamento pessoal.
A última parte do livro, editado originalmente pelo Centro Georges Pompidou de Paris, dedica-se a examinar a obra de Gitai filme a filme, fechando com isso um trabalho à altura do realizador israelense (que seria ainda melhor caso o corpo utilizado fosse um pouco maior). Paralelamente ao lançamento do livro, as fotos que ilustram o volume podem ser vistas em exposição na Faap.


AMOS GITAI. Livro sobre o cineasta israelense. Editora: CosacNaify/ Mostra BR de Cinema. Quanto: R$ 56 (256 págs.)

AMOS GITAI - PERCURSOS. Exposição de fotos do cineasta. Onde: Faap - Mezanino - Prédio 1 (r. Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo; tel.0/ xx/11/3662-7198). Quando: segunda a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h. Até 14 de novembro. Entrada franca.



Texto Anterior: Cinema: Amos Gitai arquiteta sua história na tela
Próximo Texto: Panorâmica - Literatura: Sotheby's faz leilão de peças de Oscar Wilde
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.