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29ª MOSTRA DE CINEMA
Carlos Alberto Riccelli se arrisca na direção, enquanto Bruna Lombardi assina o roteiro de "Stress, Orgasms and Salvation"
Ex-boto e seu broto estréiam na telona
PAULO SAMPAIO
DA REVISTA DA FOLHA
Bruna Lombardi é linda toda vida. De tal forma se acostumou a
ser admirada que, volta e meia,
solta sem corar frases do tipo: "A
beleza é uma coisa relativa, né?".
Ex-modelo, atriz, fenômeno de
fotogenia, olhos claríssimos, eterno broto, Bruna sabe melhor do
que ninguém que a beleza não é
relativa coisa nenhuma.
O comentário é em relação a Rachel, personagem do filme "S.O.S.
-°Stress, Orgasms and Salvation",
que marca sua estréia como roteirista. Bruna escreveu a história,
faz a protagonista e é dirigida pelo
marido, o ator Carlos Alberto Riccelli, em sua primeira incursão
atrás das câmeras. Na entrevista
com os dois, que estão juntos há
quase 30 anos, ela diz: "Não estou
bonita no filme. A Rachel é largada, brega, um desastre na vida
afetiva, procura as coisas nos lugares errados".
A história: Rachel vive uma relação complicada com o marido,
Brad (Will Potter). Não transa
com ele há três meses e não tem
orgasmo há três anos. Finalmente
Brad a trai, ela o expulsa de casa,
mas ele não se conforma e passa o
filme tentando reconquistá-la.
Aviso aos taradinhos: quem
pensa que vai ver Bruna pelada
esqueça. Ela se masturba no filme,
mas em uma cena tipo "artística",
na qual suspende ligeiramente o
vestido e mostra só a coxa.
Na trama repleta de "personagens individualistas, egoístas, voltados para si mesmos", Brad parece correr demasiadamente atrás
de Rachel. Pergunta-se: será que
esse cara existe?
"Em que sentido?", quer saber
Bruna Lombardi. "Me explica
porque eu adoro essa troca (espectador/roteirista)..."
"O principal é entender o que o
personagem está fazendo na história; para onde o diretor e o ator
devem conduzi-lo", acha Riccelli.
O diretor conta que, para dar
realidade aos tipos, fez "a viagem
de todos eles". "Os personagens
da Bruna são muito coloridos. Tive de fazê-los virar seres humanos
de verdade", conta Riccelli.
Outros homens na história também se apaixonam por Rachel/
Bruna, incluindo um roqueirinho
de 17, que parece não viver na era
do "ficar". Apaixona-se por Rachel e a chama de sua mulher. Ela
vai beijando todos, mas, linda,
dispensa-os, alegando estar "confusa". "O filme não se propõe a
dar respostas, só a colocar perguntas", explica a roteirista.
Bruna Lombardi é uma linda
ambiciosa: além de acreditar realmente que conseguiu não estar
tão bonita no filme, ela nunca se
conformou em ser apenas bela.
Escritora, poeta e agora roteirista,
quer que reconheçam sua perspicácia incomum: "Amo gente.
Gosto de observar as pessoas, a vida, vivo numa eterna busca. Meus
cineastas prediletos são P.T. Anderson ["Magnólia'], Spike Jonze
["Quero Ser John Malkovich'] e
David O. Russell ["Huckabees'].
Entendeu minha cabeça? Sou alternativa", define-se ela, que vive
na ponte São Paulo-Los Angeles
há 13 anos, desde que resolveu estudar cinema nos EUA.
"Engraçado, em um momento
em que todo mundo quer ser celebridade, eu busco o anonimato:
para mim a fama não é a resposta,
"that's not the answer'", diz.
A idéia de escrever o roteiro do
filme ocorreu na época em que tinha um programa de entrevistas,
"Gente de Expressão", no qual
conversava com televisivos do
Brasil e astros de Hollywood. Ela
diz que gostava de entrar na intimidade das pessoas e não ficar
apenas na conversa formal.
"Eu continuava a entrevista "off
the records" [nos bastidores]. E,
mesmo depois que o programa
deixou de abordar apenas celebridades e viajou para lugares como
Egito e Indonésia, percebi, conversando com aquelas mulheres,
o quanto elas estavam insatisfeitas sexualmente. Muitas nunca tinham tido um orgasmo, outras
fingiam", impressiona-se.
Bom, como Bruna se diz adepta
das entrevistas íntimas e seu filme
fala de orgasmo já no título, é hora
de perguntar: você já fingiu algum? "Imagina, você já me viu
mentir? Se fingi, deletei, esqueci",
afirma, desviando os olhos.
Se Bruna não mente, convém
tocar em um tabu ainda maior.
Sua idade. No filme, ela diz, a personagem "está na faixa dos 40". E
na vida real? "Também, por aí",
desconversa, rindo.
Fez plástica? "Não. Isso é o de
menos, um dia vou fazer. Tenho
uma alma adolescente, o que segura a onda", é como ela justifica
a impressionante forma física.
Riccelli é instado a responder
também. Pode dizer a idade?
Pausa. "Sou de 1946", diz o ex-boto, personagem-peixe que
marcou sua carreira e que deixou
marcas também em seu rosto. Em
excelente forma, Riccelli, contudo, apresenta linhas típicas de
quem tomou muito sol.
Ao contrário do personagem
Brad, o boto não tem ciúmes do
broto: "Só tenho ciúme quando
me dão motivo". Bruna Lombardi não é um bom motivo? Ele ri:
"Sei que ela está na minha".
S.O.S. - Stress, Orgasms and
Salvation
Direção: Carlos Alberto Riccelli
Quando: hoje, às 13h, no Frei Caneca
Arteplex
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