São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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CRÍTICA

Série parece mais contida do que poderia

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Falta alguma coisa a "Mandrake" e, numa primeira impressão, não é fácil defini-la. Estão ali bem presentes, por exemplo, a violência e a sexualidade que caracterizam, entre outros aspectos, os trabalhos iniciais de Rubem Fonseca. Ainda assim, os dois episódios assistidos para que este comentário fosse escrito (o primeiro e o terceiro) parecem mais "contidos" do que poderiam ser.
O advogado é um personagem recorrente na obra de Fonseca: surge em "Lúcia McCartney" e "Feliz Ano Velho", que compõem de longe o que de melhor ele produziu, ao lado de "Os Prisioneiros", "A Coleira do Cão" e "O Cobrador", e volta, esporadicamente, a aparecer. No ano passado, lançou pela Companhia das Letras "Mandrake", com duas novas histórias protagonizadas por ele.
O primeiro episódio, que será transmitido hoje, tem o sugestivo nome de "A Cidade Não É Aquilo que se Vê do Pão de Açúcar" e de fato mostra um Rio de Janeiro que não é "para turista ver". Nele é também introduzido o núcleo fixo, com destaque para Maria Luisa Mendonça, no papel de Berta Bronstein, a namorada "permanente" de Mandrake, e para Luiz Carlos Miele, que domina a cena com sua caracterização do advogado Wexler. Entre os atores convidados, merece menção um engraçadíssimo Alexandre Frota.
Uma comparação entre o conto e a sua versão televisiva talvez pudesse ajudar a esclarecer a carência sugerida acima. Infelizmente não é possível fazê-la aqui. Mas talvez seja um bom indício lembrar que, daquelas duas características dos textos dos anos 60 e 70, a violência e a sexualidade, é a extrema naturalização da primeira, transformada em uma espécie de modelo da sociedade brasileira, que firma Fonseca como um de nossos principais escritores.
Se hoje em dia, algumas décadas depois, o recurso está bastante banalizado, faz sentido que o ângulo seja ajustado e o enfoque se volte para a segunda característica, a sexualidade, como deixa bem claro o primeiro episódio. Só que, para isso, seria necessário investir um pouco mais numa perversidade que aqui e ali se insinua.
Vale a pena assistir a "Mandrake". Mas seria injusto com o autor e com os diretores da série não esperar por um pouco mais.


Adriano Schwartz é professor de arte, literatura e cultura no Brasil da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP

Mandrake
   
Quando:
hoje, às 23h, na HBO


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