São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Status do cinema brasileiro divide o júri da Mostra

Enquanto o psicanalista Contardo Calligaris aponta "momento de glória", diretor Bahman Ghobadi vê tendência "repetitiva"

Há quatro filmes nacionais entre 14 finalistas definidos pelo público; Leon Cakoff lamenta falta de "Sonhos de Peixe" e elogia "Shortbus"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre os 14 finalistas que disputam o título de melhor filme da 30ª Mostra de Cinema de São Paulo há quatro brasileiros.
A lista completa de concorrentes foi divulgada no último sábado, com a presença dos jurados -Bahman Ghobadi (cineasta iraniano), Contardo Calligaris (psicanalista e colunista da Folha), Florinda Bolkan (atriz), Jorge Sánchez (produtor mexicano), José Maria Prado (curador espanhol), Lauro Escorel (fotógrafo e diretor) e Wolfgang Becker (cineasta alemão).
Uma repórter convidou-os a comentar a performance do cinema brasileiro. "Está passando por um momento de glória, com uma safra absolutamente extraordinária", disse Calligaris. Já Ghobadi disse achar que o cinema brasileiro, "assim como o iraniano, anda repetitivo e carente de sangue novo".
Sobre a decisão do júri, Bolkan afirmou que o mais importante é que o grupo parta de uma base comum de discussão, e "não que todos estejam de acordo [em torno de um título]". A atriz, veterana em júris de festivais, comentou que "às vezes, você tem que desistir de algo de que gosta muito porque não consegue convencer os outros jurados".
Os finalistas da Mostra são definidos a partir do voto do público. O recorte considera os filmes de novos diretores (até o segundo longa). Neste ano, enquadram-se na categoria 120 dos 420 títulos programados.
A "fórmula mista" é um modo de associar o caráter competitivo que o evento assumiu ao longo de sua história (com júri oficial) e a disposição original de "confiar a decisão ao público", conforme assinalou Leon Cakoff, diretor da Mostra.
Cakoff discordou da observação feita por um crítico de que a lista de preferidos do público apresenta traço conservador.
""Shortbus" é certamente o filme mais político sobre sexo feito desde "Saló" [Pier Paolo Pasolini, 1975]", disse Cakoff. Ele disse, porém, lamentar a ausência de alguns filmes na lista de competidores, entre eles "Sonhos de Peixe", que o russo Kirill Mikhanovsky rodou no Rio Grande do Norte.
O cineasta alemão Wolfgang Becker ("Adeus Lênin") observou a existência de "um pequeno foco no cinema sul-americano" entre os concorrentes.
A decisão do júri será divulgada no encerramento da Mostra, na próxima quinta. Os jurados têm autonomia para estabelecer outras categorias de premiação, além da de melhor filme, única que é obrigatória.

"Cinema sem Fim"
No 30º aniversário da Mostra, seu diretor, Leon Cakoff, lança hoje o livro "Cinema sem Fim: A História da Mostra 30 Anos" (Imprensa Oficial e Mostra Internacional de Cinema; 456 págs.; R$ 50).
São as "memórias não esquecidas" de Cakoff sobre cada edição do evento, afirma o diretor Manoel Oliveira, em prefácio da obra. O lançamento é às 19h, no Clube da Mostra (shopping Frei Caneca, 6º andar).


Texto Anterior: Erudito: Camerata toca em mosteiro
Próximo Texto: "Cartola", o filme, resgata dívida do cinema com o bamba da Mangueira
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.