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"Cartola", o filme, resgata dívida do cinema com o bamba da Mangueira
DA REPORTAGEM LOCAL
O filme "Cartola", que tem
hoje sua última sessão na Mostra de São Paulo, não era sequer
um projeto dos diretores Lírio
Ferreira e Hilton Lacerda. Mas
acabou se tornando uma obsessão da dupla, que levou oito
anos para concretizá-lo.
Quando ainda saboreavam o
sucesso de "Baile Perfumado"
(1996), que Ferreira co-dirigiu
com Paulo Caldas, e Lacerda
roteirizou, o trio de pernambucanos foi convidado por um
instituto cultural a desenvolver
um filme em torno da biografia
do carioca Angenor de Oliveira,
o Cartola (1908-1980).
Até ali, Ferreira diz que conhecia o mestre da Mangueira
"muito superficialmente". O
projeto acabou sendo arquivado -pelo instituto. Ferreira e
Lacerda seguiram adiante.
"O que nos cativou foi que
mergulhamos no universo de
Cartola, começamos a freqüentar a Mangueira e descobrimos
a urgência e a dívida que o cinema tinha com ele", diz Ferreira.
"Cartola", o documentário,
alinhava a biografia de Cartola
ao panorama histórico que sua
vida atravessa, desde o nascimento. "Machado de Assis
morre no ano em que Cartola
nasce. É a transição de uma cultura literária, acadêmica, para
uma cultura também mulata,
mas de traço mais popular",
afirma o diretor.
Com uma extensa pesquisa
de imagens de arquivo, o filme
acabou sendo também um registro da história do audiovisual brasileiro. Ferreira acha interessante observar como as
imagens dos carnavais dos anos
20 priorizam o centro do Rio de
Janeiro e "só as pessoas brancas eram filmadas. "Na década
de 40, já se filma Copacabana e,
nos 60, com a bossa nova, Ipanema começa a aparecer".
Abordar um "caleidoscópio
de coisas" foi a maneira que os
diretores encontraram de traduzir sua pretensão "não de explicar Cartola, mas de reconstruí-lo dentro de seu tempo".
Os fãs do músico, porém, terão
a chance de acompanhar no filme as principais passagens da
vida de Cartola narradas por
quem fez parte delas. É o caso
do relato de dona Zica (1913-2003) sobre eles dois.
(SA)
CARTOLA
Direção: Lírio Ferreira e Hilton Lacerda
Onde: hoje, às 13h30, no Cinesesc
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