São Paulo, sexta, 30 de outubro de 1998

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FARSA NA TV
Vendedora de relógios de Mauá foi aos dois programas interpretar dona de loja em conflito com ambulante
Camelô vira lojista no "Ratinho' e no "Leão'

da Reportagem Local

Dona de uma vitrine de relógios na calçada das Casas Bahia do centro de Mauá, a vendedora ambulante Vilma Maria Barbosa da Silva, 27, aproveitou o esquema de farsas na TV para ganhar R$ 250 e para "realizar" o sonho de ser lojista. Ela vende relógios a R$ 10.
Vilma foi no final de agosto ao "Ratinho Livre", ainda na Record, interpretar o papel de uma mulher que expulsara, da frente de sua loja, uma camelô que trabalhava em frente ao seu estabelecimento.
Pouco mais de uma semana depois, em 9 de setembro, quando Ratinho estreava o "Programa do Ratinho" no SBT, Vilma voltou à Record, para interpretar o mesmo papel, desta vez no "Leão Livre".
A camelô diz ter sido levada aos dois programas pela produtora free-lancer Rosemeire Regina Ramalho, que trabalhava para Ratinho e que admite ter levado alguns casos ao "Leão Livre".
Vilma relata que, em sua segunda aparição na TV, a produtora Regina Ramalho levou, em sua van Towner, pessoas ao SBT e à Record. "Ela deixou uma turma no SBT e depois levou a gente para a Record", recorda.
No SBT, desembarcou o pedreiro desempregado Sebastião José de Oliveira, que fez o papel de marido traído.
"Na segunda vez que fui à Record, o pessoal da produção já me conhecia e eu nem precisei ensaiar", afirma.
Vilma diz que nas duas ocasiões brigou com sua falsa desafeta. "A produção mandou bater nela. Ela ficou com um galo na cabeça."
A camelô teria usado o dinheiro para pagar o aluguel de sua casa.
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Outro lado

Procurada pela Folha na última quarta-feira, a produtora Regina Ramalho não foi encontrada em sua casa, em Mauá. Há pouco mais de duas semanas, ela disse que não sabia que as histórias que levava ao SBT e à Record eram falsas.
A Record, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou desconhecer a exibição de farsas no "Leão Livre" e que a emissora não paga cachês a quem vai ao programa.
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Ação

O promotor Clilton Guimarães dos Santos, do Ministério Público Estadual, deve concluir hoje proposta de ação indenizatória contra a Record, o SBT, o apresentador Carlos Massa e os patrocinadores do "Programa do Ratinho".
Na ação, o promotor deve pedir uma indenização de R$ 35 milhões, para um fundo comum, por considerar que os programas de Ratinho ferem o princípio constitucional da dignidade humana.
A ação, que traz depoimentos de pessoas envolvidas em farsas, deve ser proposta ao Judiciário na próxima semana.
(DANIEL CASTRO)


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