São Paulo, sexta, 30 de outubro de 1998

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VIDA BANDIDA
O pacote

VOLTAIRE DE SOUZA

Tempo de crise. Medidas econômicas. Ramires estava preocupado. "Vem coisa ruim aí." Acordou bem cedo e foi pegar o jornal no jardim. Encontrou uma caixa de papelão. Muito bem fechada com fita crepe. Ramires abriu. Dentro, um recém-nascido. Roxo. Morto. Asfixia. Era o filho da doméstica Teresinha. Que ele havia demitido por gravidez. Piedosamente, Ramires enterrou-o no quintal. Ao lado do "rottweiler" que sofria do coração. Foi tomar banho depois da trabalheira. As lágrimas, não o remorso, se diluíam na água do chuveiro. Antes de abrir qualquer pacote, cumpre abrir o coração.



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