São Paulo, sexta, 30 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vampiro decepa braços de vampiros em "Blade"


PAULO VIEIRA
especial para a Folha

Quando vierem me cobrar contas das horas perdidas, não terei como debitar o período entre 20h30 e 22h30 (horário de verão) do dia 28 de outubro de 1998, quando assisti a "Blade - O Caçador de Vampiros", filme que estréia hoje, espalhou dezenas de outdoors pela cidade e é um lixo.
Sob o manto de uma história de vampiros "como você nunca viu", o diretor britânico Sthephen Norrington, egresso dos efeitos especiais/maquiagem, produziu mais um filme desprezivelmente esquecível, em que a presença do herói indestrutível Blade (Wesley Snipes, um dia ator de Spike Lee) monopoliza 90% das sequências e destrói algumas centenas de figurantes (todos vampiros) e vilões que se interpõem no seu caminho.
Norrington sepultou a sedução e a sexualidade próprias dos vampiros para dar emergência a um exagero de derramamento de sangue, braços decepados e olhos deslocados das órbitas.
Colocou também um bom punhado de atores negros, a começar pelo próprio herói (negro que já era nos quadrinhos), mas também amarelos, para compor uma megalópole futurista que, ao cabo, se parece com todas as megalópoles futuristas do cinema, ou seja, o Brooklin de Nova York (ou Santa Cecília, em São Paulo).
Bem, há uma trama, e o principal consiste em que os vampiros já dominam setores institucionais da cidade, usam gravatas, pastas 007, andam barbeados e, como os humanos a quem pretendem dominar, não têm um comando unificado, donde emergem disputas figadais pelo poder.
Ascende então o jovem e pintoso Diácono Frost (Stephen Dorff, de "Um Tiro para Andy Warhol"), que lança mão de conhecimentos ancestrais, um dedo de cinismo e um séquito de frequentadores de boates gay para assumir o manche. Blade irá se ver com ele.
Os produtores acham um trunfo que Blade também seja um vampiro, mas, por uma aberração genética qualquer, não seja suscetível ao sol e, inexplicavelmente, não goste da sua raça. Mas se isso parece novo, as armas que carrega são metralhadoras com balas de prata, holofotes e sprays a base de alho.
Há também uma mocinha, que em uma ou duas falas tenta sensibilizar o coração de Blade, e um Kris Kristofferson como um ajudante do tipo "servi no Vietnã".
Blade faturou US$ 68 milhões em 66 dias nos EUA, mas os números outonais já não são expressivos. A nós não dizem nada. Significam, quando muito, que de entulhos desse tipo (prepare-se para "Cidade das Sombras", do mesmo roteirista, coming soon), jamais vamos nos livrar.
²
Filme: Blade - O Caçador de Vampiros Direção: Stephen Norrington Produção: EUA, 1998 Com: Wesley Snipes, Sthephen Dorff Quando: a partir de hoje, nos cines Marabá, Gazeta e circuito


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.