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Vampiro decepa braços de vampiros em "Blade"
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Quando vierem me cobrar contas das horas perdidas, não terei
como debitar o período entre
20h30 e 22h30 (horário de verão)
do dia 28 de outubro de 1998,
quando assisti a "Blade - O Caçador de Vampiros", filme que estréia hoje, espalhou dezenas de
outdoors pela cidade e é um lixo.
Sob o manto de uma história de
vampiros "como você nunca viu",
o diretor britânico Sthephen Norrington, egresso dos efeitos especiais/maquiagem, produziu mais
um filme desprezivelmente esquecível, em que a presença do herói
indestrutível Blade (Wesley Snipes, um dia ator de Spike Lee) monopoliza 90% das sequências e
destrói algumas centenas de figurantes (todos vampiros) e vilões
que se interpõem no seu caminho.
Norrington sepultou a sedução e
a sexualidade próprias dos vampiros para dar emergência a um exagero de derramamento de sangue,
braços decepados e olhos deslocados das órbitas.
Colocou também um bom punhado de atores negros, a começar
pelo próprio herói (negro que já
era nos quadrinhos), mas também
amarelos, para compor uma megalópole futurista que, ao cabo, se
parece com todas as megalópoles
futuristas do cinema, ou seja, o
Brooklin de Nova York (ou Santa
Cecília, em São Paulo).
Bem, há uma trama, e o principal
consiste em que os vampiros já dominam setores institucionais da
cidade, usam gravatas, pastas 007,
andam barbeados e, como os humanos a quem pretendem dominar, não têm um comando unificado, donde emergem disputas figadais pelo poder.
Ascende então o jovem e pintoso
Diácono Frost (Stephen Dorff, de
"Um Tiro para Andy Warhol"),
que lança mão de conhecimentos
ancestrais, um dedo de cinismo e
um séquito de frequentadores de
boates gay para assumir o manche.
Blade irá se ver com ele.
Os produtores acham um trunfo
que Blade também seja um vampiro, mas, por uma aberração genética qualquer, não seja suscetível ao
sol e, inexplicavelmente, não goste
da sua raça. Mas se isso parece novo, as armas que carrega são metralhadoras com balas de prata,
holofotes e sprays a base de alho.
Há também uma mocinha, que
em uma ou duas falas tenta sensibilizar o coração de Blade, e um
Kris Kristofferson como um ajudante do tipo "servi no Vietnã".
Blade faturou US$ 68 milhões em
66 dias nos EUA, mas os números
outonais já não são expressivos. A
nós não dizem nada. Significam,
quando muito, que de entulhos
desse tipo (prepare-se para "Cidade das Sombras", do mesmo roteirista, coming soon), jamais vamos
nos livrar.
²
Filme: Blade - O Caçador de Vampiros
Direção: Stephen Norrington
Produção: EUA, 1998
Com: Wesley Snipes, Sthephen Dorff
Quando: a partir de hoje, nos cines Marabá,
Gazeta e circuito
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