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Conferência Ministerial da OMC discute protecionismo cultural nos Estados Unidos
France Presse
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Homem protesta na França contra a 3ª Conferência da OMC |
União Européia não aceita que cinema, disco e livro sejam tratados como bem material, e sim "espiritual"
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CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Seattle
A 3ª Conferência Ministerial da
Organização Mundial do Comércio, que começa hoje em Seattle
(noroeste dos EUA) não vai discutir apenas bens materiais (do
suco de laranja ao comércio eletrônico), mas também os que podem ser chamados de espirituais.
Para o governo francês, aliás, a
verdadeira batalha na cidade norte-americana que hospeda a conferência, será exatamente em torno dos bens espirituais.
Escreve, por exemplo, Jean Castarède, representante do Estado
no Centro Nacional de Cinematografia da França:
"O verdadeiro combate deve
também ser levado contra a poluição dos espíritos e das sensibilidades, a fim de proteger as especificidades de todas as culturas e de
todas as formas de expressão contra o rolo compressor econômico
que se beneficia das vantagens da
língua inglesa".
Tão longa frase para dizer, na
prática, o seguinte: nem o governo francês nem a União Européia,
o conglomerado de 15 países europeus, aceita que o mercado do
audiovisual (cinema e TV, acima
de tudo, mas também discos e livros) seja tratado como qualquer
outra mercadoria, sujeita às regras liberais que hoje predominam no planeta.
Tanto é assim que, por pressão
francesa, a União Européia traz
para Seattle a tese de que cada país
possa ter "a capacidade para definir e implementar suas políticas
culturais e audiovisuais com o
propósito de preservar a diversidade cultural".
Ou, posto de forma mais direta:
os franceses, com mais ênfase, e
os europeus, na esteira deles, não
querem que sua produção cinematográfica e televisiva seja sepultada pela avalanche de enlatados importados dos EUA.
Talvez seja tarde demais. O déficit anual da União Européia nas
trocas de filmes e programas audiovisuais com os Estados Unidos
já é avaliado hoje em cerca de 6 bilhões de euros, o que dá praticamente a mesma coisa em dólares
(e quase o dobro em reais).
Com o resto do mundo, então, a
vantagem norte-americana é esmagadora, até porque pouquíssimos países têm recursos orçamentários suficientes para subsidiar sua produção cultural de forma a permitir não a impossível
concorrência com a portentosa
máquina norte-americana, mas
pelo menos a sobrevivência da indústria cultural local.
A batalha cultural tem história
nas negociações comerciais planetárias, tanto que quase fez fracassar o ciclo anterior de negociações, batizado de Rodada Uruguai e que durou de 1986 a 1993.
Já naquela época, eram os franceses os que mais batalhavam para que os países-membros não
fossem obrigados a liberalizar o
setor cultural da mesma forma
como fizeram com outras áreas,
em especial a indústria.
Os norte-americanos, sempre
atentos a todas as oportunidades
de abrir mercados alheios, acabaram cedendo. Resultado: dos 135
países que hoje fazem parte da
OMC, 116 não abriram o mercado
de bens audiovisuais.
Foi tão forte a resistência francesa que o setor cultural é o único
que escapa inteiramente da regra
de ouro do sistema comercial planetário, chamada de cláusula de
nação mais favorecida. Significa
que, se um benefício comercial é
dado a um país-membro, todos
os demais têm direito à idêntica
vantagem.
Agora em Seattle, a questão reaparece, mas, muito possivelmente, será deixada de novo de lado,
ao menos provisoriamente.
São tantas as divergências (especialmente entre Europa e Estados Unidos) que acrescentar mais
um ponto polêmico à agenda seria correr o risco de que as negociações fracassassem completamente, afetando áreas economicamente mais sensíveis.
Mesmo porque o "rolo compressor", a que se refere Jean Castarède, funciona a todo vapor
mesmo sem se beneficiar de regras liberais específicas. Se é, como diz o funcionário francês,
uma "poluição dos espíritos", não
será a OMC que começará um hipotético trabalho de limpeza ambiental.
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