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COMÉRCIO X CULTURA
Debate une políticos e artistas na França
FÁTIMA GIGLIOTTI
de Paris
Com a proximidade da abertura
do ciclo de negociações da OMC
em Seattle (EUA), a França transformou a questão da diversidade
cultural numa batalha pela soberania nacional.
O problema uniu no mesmo
credo o presidente Jacques Chirac
(do RPR, Reunião pela República,
direita) e o primeiro-ministro
Lionel Jospin (socialista).
Desde 1993, é o país quem levanta a bandeira da diversidade
cultural na Europa. "A França crê
que a defesa da língua e a promoção da cultura não devem seguir a
mesma regulamentação do mercado comercial", disse à Folha Eli
Cohen, diretor da Sociedade Nacional de Pesquisa Científica.
Rostos conhecidos como os da
atriz Juliette Binoche (Oscar de
coadjuvante por "O Paciente Inglês") e o do cineasta Bertrand Tavernier ("A Isca") entraram na
briga para defender o protecionismo cultural.
Resultado: a União Européia
(UE) não apenas adotou o princípio como vai defendê-lo em Seattle. O representante da UE na
OMC, Pascal Lamy, declarou que
a União Européia buscará garantir a possibilidade de a comunidade "definir e desenvolver ações
políticas culturais e audiovisuais
para preservar sua diversidade
cultural".
Para obter a adesão da UE, a
França precisou relaxar sua posição. Antes, nem aceitava discutir
com outros países suas políticas
culturais (o chamado princípio da
exceção cultural). Agora, aceita
um regime especial (princípio da
diversidade cultural), mas, internamente, ainda defende a política
de exceção. "A cultura não é negociável", diz François Huwart,
secretário do Estado de Comércio
Exterior.
A França adota uma série de
medidas de incentivo à cultura local, como sistemas de cotas de difusão, de auxílio à produção e à
criação. Só na área do audiovisual, há 27 programas de incentivo -que vão do roteiro à distribuição. "O país não quer se desfazer desse aparelho de apoio à cultura nacional para que ela seja regulada apenas pelo mercado", diz
o pesquisador Cohen.
Na prática, a bandeira da diversidade cultural significa defender
protecionismo para os bens culturais. O presidente Chirac disse
em uma reunião com 200 artistas
que, "na Europa, a média de filmes americanos no cinema e na
televisão é superior a 60% do total
exibido, contra 3% no sentido inverso". Por outro lado, o comércio mundial de bens culturais triplicou entre 1980 e 1995, passando
de US$ 67 bilhões a US$ 200 bilhões, informa a Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura).
A ministra da Cultura francesa,
Catherine Traumann, afirmou
em uma conferência na Unesco
que "os bens culturais são essenciais à preservação da identidade
dos povos. Eles veiculam valores,
idéias e sentidos. Sua especificidade deve ser reconhecida, eles não
são mercadorias como as outras".
Segundo dados do ministério
da Cultura francês, em 1998, dos
filmes exibidos na França, 63,5%
eram de produções americanas, e
27,4 %, francesas. Entre os exportadores de audiovisual, a França
ocupa a quinta posição, atrás dos
EUA, Canadá, Austrália e Reino
Unido.
São números como esses que
servem de justificativa para os defensores da diversidade cultural.
"Um filme ou um livro não são
produtos como os outros, são vetores da cultura francesa, da nossa
língua", afirmou o cineasta Cédric Klapisch, um dos mentores
da "Declaração de Bastia".
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