São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2000

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RELÂMPAGOS
Porto

JOÃO GILBERTO NOLL

"Corri, corri para te pegar." Recuas, esfregas o casaco, como se retirasses meu pó. Mas mal toquei na tua manga, só um roçar, como quem diz "ainda estou aqui; não morri, não". Lembro que ventou, o vento que aparece sempre aqui no sul, quando algo está para se dar. De preferência numa esquina como aquela, a sarjeta meio alagada, crespa, com um laivo de cais. E se duas pessoas se encontram sem nada mais para dizer. Ventava, como se existisse uma conjunção de forças, maior. Sacudiste mais uma vez o casaco. Encenação de segunda... Um carro estacionava rente ao pífio drama. O recreio estridente na escola, logo ali. Tu abrindo a porta do carro recém-estacionado. Abaixo-me. Olho as mãos firmes no volante. Brancas, quase transparentes, a bem dizer, só ossos. São elas que te levarão...


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