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RELÂMPAGOS
Porto
JOÃO GILBERTO NOLL
"Corri, corri para te pegar."
Recuas, esfregas o casaco, como se retirasses meu pó. Mas
mal toquei na tua manga, só
um roçar, como quem diz
"ainda estou aqui; não morri,
não". Lembro que ventou, o
vento que aparece sempre aqui
no sul, quando algo está para
se dar. De preferência numa
esquina como aquela, a sarjeta
meio alagada, crespa, com um
laivo de cais. E se duas pessoas
se encontram sem nada mais
para dizer. Ventava, como se
existisse uma conjunção de
forças, maior. Sacudiste mais
uma vez o casaco. Encenação
de segunda... Um carro estacionava rente ao pífio drama.
O recreio estridente na escola,
logo ali. Tu abrindo a porta do
carro recém-estacionado.
Abaixo-me. Olho as mãos firmes no volante. Brancas, quase
transparentes, a bem dizer, só
ossos. São elas que te levarão...
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