São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2000

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CINEMA
Longa de Laís Bodanzky ganha seis prêmios, incluindo melhor filme; "Sinistro" repete façanha na disputa dos curtas
"Bicho de 7 Cabeças" leva tudo em Brasília

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Não teve para ninguém. "Bicho de 7 Cabeças", de Laís Bodanzky, ganhou quase tudo no 33º Festival de Cinema de Brasília, encerrado anteontem à noite.
Além de ser considerado o melhor filme pelo júri oficial, pela crítica e pelo público, o longa-metragem -que narra o drama de um jovem internado pela família num manicômio- faturou também os Candangos de ator (Rodrigo Santoro), fotografia (Hugo Kovensky) e ator coadjuvante (Gero Camilo).
Há muito tempo o Festival de Brasília não concentrava tantos prêmios num só filme. O júri oficial rejeitou a chamada "reforma agrária" (distribuição diplomática de troféus entre os vários concorrentes) e optou pelo filme que considerou mais "orgânico e consequente", segundo a justificativa (em "off") de um jurado.
Sobrou pouco para os outros. "Brava Gente Brasileira", de Lúcia Murat, ficou com os prêmios de atriz (Luciana Rigueira) e música (Lívio Tragtemberg).
"Latitude Zero", de Toni Venturi, teve de se contentar com o Candango de roteiro (para Di Moretti), e "Tônica Dominante", de Lina Chamie, com o de direção de arte (para Ana Mara Abreu).
Os outros dois concorrentes também ficaram com um prêmio cada um: "O Chamado de Deus" com o de montagem (Eduardo Escorel) e "Minha Vida em Suas Mãos" com o de atriz coadjuvante (Imara Reis).
Pode-se discutir a premiação "no varejo" (Katia Coelho talvez devesse ganhar o Candango de fotografia por "Tônica Dominante", por exemplo), mas nenhum dos prêmios foi, propriamente, imerecido (veja quadro com premiados ao lado). O nível geral do festival foi muito bom.
Nos curtas, repetiu-se quase simetricamente a consagração de um só. O brasiliense "Sinistro", de René Sampaio, uma comédia policial com estrutura narrativa engenhosa, levou quase tudo: melhor filme (pelo júri, crítica e público), direção e fotografia (André Luís da Cunha), além do prêmio da Câmara Legislativa do Distrito Federal para melhor curta brasiliense.
Outros fortes concorrentes, como "O Sanduíche", de Jorge Furtado, e "Outros", de Gustavo Spolidoro, ficaram com troféus secundários.
Os prêmios em dinheiro, pagos pelo Banco do Brasil, são consideráveis. "Bicho de 7 Cabeças" recebeu R$ 50 mil por ter sido o melhor filme do júri oficial e mais R$ 20 mil pelo prêmio do público. "Sinistro" ganhou R$ 15 mil pelo júri oficial e R$ 10 mil pelo prêmio do público.
A cerimônia de premiação, no Teatro Nacional Claudio Santoro, foi extremamente sóbria, ao contrário da palhaçada que ocorreu no ano passado.
O próprio apresentador habitual do festival, o ator Eduardo Conde, anunciou todos os vencedores com um discreto fundo musical ao vivo, feito pelo pianista Kadu Pereira, da Cinemateca do MAM do Rio.
Dada a concentração dos Candangos em dois filmes, não houve grandes surpresas nem comoções. Eram sempre os mesmos que subiam ao palco, o que implicou um alto grau de redundância e até monotonia.
Um dos momentos mais marcantes foi a premiação do ator coadjuvante Gero Camilo, fantástico no papel de um interno de hospício em "Bicho de 7 Cabeças". Aplaudido de pé, Camilo -talvez o grande nome desta edição do festival- subiu ao palco e disse para delírio geral: "Cês tão tudo louco".


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