São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2000

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LITERATURA
No lançamento de "Corações Sujos", Fernando Morais oferece livro ao ator
Autor de "Chatô" honra Fontes em SP


CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Omedetô" (parabéns). Mesmo sem falar japonês, foi assim que o escritor Fernando Morais brindou com dois "tokkotai" que compareceram ao lançamento de seu livro, "Corações Sujos", anteontem em São Paulo.
Os "tokkotai" eram os matadores a cargo da Shindo Renmei, sociedade formada nos anos 40 por imigrantes japoneses que não acreditavam na derrota sofrida pelo Japão durante a Segunda Guerra, tema da obra de Morais.
Como a prova em carne e osso de que a história, por mais absurda que possa parecer, realmente aconteceu, estavam lá, brindando com saquê, Hiromi Yamashita e Tokuiti Hidaka (75 anos ambos).
Hidaka até aparece na foto da capa do livro de Morais. É o sétimo, da esquerda para a direita. Continua com o mesmo ar de atrevido de quando tinha 20 anos. "Hoje acha errado, mas arrepender, não", diz, ainda com sotaque carregado. "Não era fanatismo, estávamos educados assim: japonês tem que honrar a pátria."
Por participar das ações da Shindo Renmei, Hidaka passou 11 anos na prisão. Seu companheiro Hiromi Yamashita, que levou 15 anos na Casa de Detenção -entrou aos 20, saiu com 36-, pensa diferente: "Eu não faria de novo".
Yamashita participou em duas ações da organização, que eliminaria os "corações sujos" Jinsaku Wakiyama e Chuzaburo Nomura, imigrantes que tinham cometido a falta grave, na visão da Shindo Renmei, de acreditar na derrota das tropas japonesas.
"Com o decorrer do tempo, assistindo às notícias, a gente vai sabendo das coisas verdadeiras. Naquela época, não tínhamos informação direta. Eu não acreditei que o Japão tinha perdido e achava que não se devia fazer propaganda da derrota", afirma Yamashita.
"Corações Sujos" parece mesmo um filme, mas os interessados têm que correr logo: ontem, mais uma vez, Fernando Morais ofereceu os direitos do livro ao ator e produtor Guilherme Fontes, uma espécie de desagravo público em virtude dos problemas envolvendo as filmagens de "Chatô".
"Guilherme: quando quiser, é seu", escreveu Morais na dedicatória que fez para o ator.
Fontes, sorridente, se disse "muito emocionado" com o desagravo e afirmou que "Chatô" está "praticamente" pronto. "Tenho 80% do filme. Falta captar mais recursos, só depende agora do Ministério da Cultura", disse.


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