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LITERATURA
No lançamento de "Corações Sujos", Fernando Morais oferece livro ao ator
Autor de "Chatô" honra Fontes em SP
CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Omedetô" (parabéns). Mesmo
sem falar japonês, foi assim que o
escritor Fernando Morais brindou com dois "tokkotai" que
compareceram ao lançamento de
seu livro, "Corações Sujos", anteontem em São Paulo.
Os "tokkotai" eram os matadores a cargo da Shindo Renmei, sociedade formada nos anos 40 por
imigrantes japoneses que não
acreditavam na derrota sofrida
pelo Japão durante a Segunda
Guerra, tema da obra de Morais.
Como a prova em carne e osso
de que a história, por mais absurda que possa parecer, realmente
aconteceu, estavam lá, brindando
com saquê, Hiromi Yamashita e
Tokuiti Hidaka (75 anos ambos).
Hidaka até aparece na foto da
capa do livro de Morais. É o sétimo, da esquerda para a direita.
Continua com o mesmo ar de
atrevido de quando tinha 20 anos.
"Hoje acha errado, mas arrepender, não", diz, ainda com sotaque
carregado. "Não era fanatismo,
estávamos educados assim: japonês tem que honrar a pátria."
Por participar das ações da
Shindo Renmei, Hidaka passou 11
anos na prisão. Seu companheiro
Hiromi Yamashita, que levou 15
anos na Casa de Detenção -entrou aos 20, saiu com 36-, pensa
diferente: "Eu não faria de novo".
Yamashita participou em duas
ações da organização, que eliminaria os "corações sujos" Jinsaku
Wakiyama e Chuzaburo Nomura, imigrantes que tinham cometido a falta grave, na visão da
Shindo Renmei, de acreditar na
derrota das tropas japonesas.
"Com o decorrer do tempo, assistindo às notícias, a gente vai sabendo das coisas verdadeiras. Naquela época, não tínhamos informação direta. Eu não acreditei
que o Japão tinha perdido e achava que não se devia fazer propaganda da derrota", afirma Yamashita.
"Corações Sujos" parece mesmo um filme, mas os interessados
têm que correr logo: ontem, mais
uma vez, Fernando Morais ofereceu os direitos do livro ao ator e
produtor Guilherme Fontes, uma
espécie de desagravo público em
virtude dos problemas envolvendo as filmagens de "Chatô".
"Guilherme: quando quiser, é
seu", escreveu Morais na dedicatória que fez para o ator.
Fontes, sorridente, se disse
"muito emocionado" com o desagravo e afirmou que "Chatô" está
"praticamente" pronto. "Tenho
80% do filme. Falta captar mais
recursos, só depende agora do
Ministério da Cultura", disse.
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