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CINEMA/"EL MAR"
Villaronga realiza um completo vexame
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Entre seus conterrâneos espanhóis, Agustín Villaronga
cultivou, com seus primeiros filmes, a fama de cineasta maldito.
Villaronga deitou na cama, mas,
quando o dinheiro faltou, não hesitou em fazer sua "rentrée" no
circuito como diretor de thrillers.
O sucesso da capitulação garantiu-lhe o financiamento da adaptação do romance do também
maiorquino Blai Bonet. Realizado
com a ajuda do produtor Paulo
Branco, "El Mar" consolidaria a
carreira do diretor, se não se revelasse um completo vexame.
Num sanatório para tuberculosos, três amigos marcados por
uma tragédia de infância se reencontram. Ramallo, contrabandista obrigado a manter relações sexuais com o patrão, é o homem
dos instintos, aprisionado ao poder de suas pulsões. Tur, o tuberculoso, é o reprimido, falso beato
obcecado pelo amigo e pelo passado. E Francisca é a bela angelical
que se tornou freira não para servir a Deus, mas às pessoas.
Villaronga nos apresenta seus
protagonistas, no início, como típicos personagens do cinema
moderno, isto é, como "órfãos de
guerra" (a Guerra Civil Espanhola, no caso) meio anjos, meio demônios que, em sua guerra particular com a vida, perdem-se na
fronteira além do bem e do mal.
O fato de efetivar essa apresentação por um flashback e de usá-la
para delinear o perfil psicológico
dos personagens demonstra que
o cineasta não ficou indiferente ao
sucesso e à segurança que o esquema batido dos thrillers lhe
proporcionou. "El Mar" desenrola-se em sua eterna promessa de
"mais a ver", de acordo com o velho esquema clássico de suspense.
O problema não é que Villaronga queira rezar pela cartilha comercial hollywoodiana. Alejandro Amenábar, por exemplo, soube capitular sorrindo: seu "Os
Outros" prima pela economia na
abordagem do mesmo esquema.
Ao contrário de Amenábar, Villaronga peca pelo excesso, como
um mau diretor de filmes B de
horror, um Dario Argento sem talento. Pretensioso, busca numa
simbologia um tanto duvidosa e
barata um meio de transcender a
dinâmica sensório-motora do esquema hollywoodiano e acaba
por banalizar motivos já banalizados pelo cinema, como a obsessão
de Tur pela cruz e a de Ramillo, "o
náufrago", pelo silêncio imenso
do mar, "sentimento oceânico"
que é, em si mesmo, religioso.
El Mar
El Mar
Direção: Agustín Villaronga
Produção: Espanha, 1999
Com: Bruno Bergonzini, Roger
Casamajor, Antonia Torrens
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco e no Unibanco Arteplex
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