São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2001

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Guided by Voices lança no Brasil "Isolation Drills" e prepara novo disco, o 13º em 16 anos

Vozes ativas

O guitarrista Doug Gillard comenta nova leva de grupos indies e diz que banda foge do hype

Divulgação
A banda indie americana Guided by Voices, com 16 anos de carreira, tem seu 12º disco lançado no país


CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL

Sabe o dono da loja de discos do filme "Alta Fidelidade", aquele que inventa listas de cinco melhores coisas a cada cinco minutos? A banda americana Guided by Voices, cujo 12º disco acaba de sair no Brasil, é uma das preferidas do personagem interpretado por John Cusack.
Além do trintão do filme, o Guided by Voices entraria na lista de "melhores bandas indie lo-fi" de muita gente.
O grupo surgiu em 85, em Ohio, por iniciativa do então professor de escola primária Robert Pollard. Apaixonado por cinema e música pop, Pollard seguiu dando aulas até o quinto disco do GbV, momento em que a banda cresceu tanto -no cenário underground americano e europeu- que teve de trocar um estúdio tosco de fundo de quintal por uma gravadora, a bacana Matador.
Pollard gosta de dizer por aí que é, como o cara de "Alta Fidelidade", um grande conhecedor de cultura pop e é respeitado por isso. "Acho até que há gente que conheça tanto quanto, mas duvido que alguém saiba mais do que eu", diz em entrevistas.
Talvez por isso, o Guided by Voices tenha uma das formações mais instáveis da história do rock. Segundo contas do próprio Pollard, 52 músicos já passaram pela banda.
O guitarrista Doug Gillard, 35, é integrante do Guided by Voices desde 96, talvez porque adore manter longas conversas sobre cultura pop com "Bob" Pollard. "É muito enriquecedor bater papo com ele", disse Gillard à Folha, por telefone, de Cleveland, Ohio. "A coisa não chega a ser como em "Alta Fidelidade", mas gastamos um bom tempo falando sobre música."
Nerds do indie ou não, os Guided by Voices não têm mais o hype que tinham no começo dos anos 90, mas mantêm-se como nomes sagrados do rock alternativo americano. Além de "Isolation Drills", lançado em abril nos EUA e na Europa e agora no Brasil, o GbV já tem outro CD pronto. "Acabamos de gravar ontem", diz o guitarrista. Leia mais na entrevista a seguir.

Folha - "Isolation Drills" tem produção um pouco mais elaborada do que outros discos do GbV. A banda quis dar uma lapidada no som?
Doug Gillard -
Gravamos em Nova York, num estúdio legal. Mas acho que não foi intencional soar mais trabalhado. A idéia era fazer um disco bem orgânico. Mas não é tão "lo-fi" quanto a banda fazia no passado. Aquilo foi uma fase. E acho que foi isso que chamou a atenção das pessoas para o GbV. Foi aí que a banda começou a ser conhecida. Agora a história é diferente. Nem Bob nem o resto da banda queria ficar olhando para trás. Acho que já estava na hora de a banda soar grande de alguma forma. Então, para responder sua pergunta, acho que é, sim, um disco mais lapidado. E você vai sentir isso mais ainda com o disco que acabamos de gravar ontem.

Folha - E este álbum já tem data para sair?
Gillard -
Não. Literalmente acabamos de gravar tudo ontem [terça". Nem temos ainda um acordo para saber por qual gravadora vai sair, se pela TVT ou pela Matador. Não posso nem te falar o nome do disco ainda.

Folha - Todos na banda são apaixonados por cultura pop, como Robert Pollard?
Gillard -
Acho que não como ele. Mas, sim, a gente fala muito sobre música.

Folha - É como trabalhar com o cara do "Alta Fidelidade"?
Gillard -
A coisa não chega a ser como o filme, mas gastamos um bom tempo falando sobre música. O Bob se interessa por filmes, bandas desconhecidas, sejam elas novíssimas ou supervelhas. É muito enriquecedor bater papo com ele. O conhecimento dele sobre música pop é absurdo. Acontece direto de ele falar sobre uma banda e todo mundo sair correndo para achar o tal disco. Ou seja, quando ele fala sobre algum som é porque é realmente legal. Eu mesmo aprendi muito sobre música dos anos 60 e 70 com ele.

Folha - O Pollard foi professor até meados dos anos 90. Foi aí que a banda virou uma atividade profissional mesmo? Vocês mantêm outras profissões?
Gillard -
Hoje somos GbV o tempo todo. Ganhamos pouco por mês e recebemos um pouquinho mais quando sai um disco novo. O jeito de sobreviver é fazer shows, é aí que conseguimos algum dinheiro.

Folha - Vocês têm quatro CDs lançados no Brasil e muitos fãs aqui. Não têm planos de tocar no país?
Gillard -
A gente fala muito sobre isso. Somos amigos de muitas bandas que já passaram por aí. O pessoal do Superchunk falou só coisa boa sobre São Paulo, o que até nos surpreendeu. O Sonic Youth também adorou tocar aí. O duro é a grana.

Folha - O que você acha dessa nova leva de bandas americanas de rock? Tem alguma preferida?
Gillard -
Fizemos uma turnê com os Strokes. São caras muito legais, em primeiro lugar. E a música deles, apesar de soar familiar, tem algo de novo, é um estilo único. Eles não são a ressurreição de Cristo, mas são muito bons. Você não precisa quebrar conceitos antigos, ser uma banda totalmente inovadora, para ser interessante. Só espero que eles não sejam vítimas do hype que os assolou. O hype é uma coisa perigosa. Estamos longe de qualquer hype há um tempo. Acho que até aconteceu com o GbV em meados dos anos 90, mas estou feliz de não precisar disso para viver. Falando em hype, devo dizer que não acho o [duo norte-americano" White Stripes grande coisa.


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