São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2008

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FAU em pedaços

Projetado por Artigas, prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP chega aos 40 anos com teto danificado, goteiras e infiltrações; professor vê risco de "colapso" da estrutura
Fotos Tuca Vieira/ Folha Imagem
Vista interna do prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na USP

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Chove lá fora, e também lá dentro. Enquanto alunos montam maquetes sob um toldo de pano improvisado, o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Marcos Acayaba desvia das goteiras e chega ao último andar do prédio da FAU, com vista para o enorme Salão Caramelo lá embaixo. "Isso aqui, quando foi inaugurado, era uma maravilha", suspira.
A FAU completou neste ano 60 anos de sua fundação, em 1948, quando começaram as primeiras aulas na sede que ocupou na rua Maranhão, em Higienópolis. No ano que vem, o prédio desenhado por Vilanova Artigas (1915-85), inaugurado em 1969, faz 40 anos, sem muito motivo para celebrar.
"Se não fizermos nada, teremos um colapso da estrutura", diz Acayaba sobre a FAU, na Cidade Universitária, um dos prédios mais emblemáticos do modernismo brasileiro. "O diagnóstico é que, em três ou quatro anos, tudo isso aqui pode ruir."
Não é de hoje a preocupação com a estrutura danificada do teto do edifício de Artigas, e este é só um dos problemas que ameaçam a construção. Há ainda alterações questionáveis no projeto original, feitas ao longo dos anos por diretores da faculdade, banheiros que não funcionam, alagamentos no porão, manchas de infiltração no teto e no piso, tubulações enferrujadas e colunas de sustentação destruídas -o saldo de algumas reformas inacabadas.
"É trágico pensar que esse prédio tem sido depredado continuamente", lamenta o arquiteto e ex-diretor da FAU Júlio Katinsky. "Não parece que ele passou por uma guerra?"
Enquanto engrossa a tempestade lá fora, aumentam as goteiras do lado de dentro. Dois terços do telhado da FAU sofrem de infiltração mais grave: a água armazenada dentro da estrutura dilui o concreto e surge do lado de fora na forma de estalactites brancas de calcário, que gotejam sobre o piso.
Nos pontos mais críticos, pedaços de concreto chegaram a despencar do teto, e a direção da faculdade instalou panos para evitar que alunos fossem atingidos pelos fragmentos. "Uma vez quase caiu um pedaço na cabeça de uma menina", lembra Katinsky. Um dos toldos agora serve de trem de pouso para aviões de papel arremessados por alunos -"uma forma infantil de criticar", nas palavras do professor.
Foi ele, aliás, quem restaurou um terço da estrutura do teto quando dirigiu a faculdade há oito anos, mas não fez mais, alega, por falta de tempo.
"Toda a estrutura pode entrar em colapso", repete Álvaro Puntoni, arquiteto e professor da FAU que também trabalhou na Fundação Artigas, responsável por preservar a obra do arquiteto -o prédio da FAU, aliás, é tombado e protegido pelo governo do Estado desde 1981. "Mas a gente vem acompanhando essa deterioração."

Supercobertura
Para solucionar o problema, a atual direção da faculdade, presidida pelo professor Sylvio Barros Sawaya, propõe instalar uma supercobertura, que cobriria a grelha de concreto e seus domos de fibra de vidro, e substituiria a drenagem com calhas de concreto por uma estrutura de alumínio, mais durável. É um plano questionado por alguns arquitetos, que vêem nisso uma interferência grave no projeto de Artigas.
"Esse prédio é patrimônio mundial, tem de ser mexido com cuidado", diz o professor da FAU e arquiteto Antônio Carlos Baroffi. "Há barbaridades sendo feitas lá." Entre elas, a construção de uma calçada do lado de fora do prédio, que chegaria perto demais dos pilares de sustentação originais e poderiam comprometer a visão projetada pelo arquiteto.
Outra questão é a ocupação de espaços antes livres por áreas administrativas e paredes que bloqueiam o trânsito de dentro para fora do edifício, que não tem portas. "Era um terração aberto que foi ocupado pela burocracia", diz Acayaba. "Era tudo mais aberto."


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