São Paulo, Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2000


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SHOW CRÍTICA

Música cubana para Maradona dançar no "spa"

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

A imagem da música cubana é de originalidade -não deve ser à toa a designação "ritmos afro-cubanos"- e, ainda mais, de excelência (Lecuona, Bola di Nieve, Celia Cruz, Rubalcaba, "Buena Vista"). É apenas mais um dos setores em que nos acostumamos a ver "indiscutível qualidade" do material insular, além dos charutos, esporte, saúde e educação laica.
Pois os adjetivos absolutamente não se aplicam ao Habana Ensemble, um comboio de jovens cubanos que itinerou por São Paulo semana passada. Em apresentação no Tom Brasil, mostraram como é possível popularizar, ou melhor, pasteurizar a música da ilha.
A intenção de ser um grupo "for export" estava clara antes mesmo de os 11 subirem ao palco. Nada de piano acústico, mas sim um limitado teclado Fender Rhodes, incapaz de se aproximar da timbragem tradicional. Um detalhe, especialmente num grupo liderado pelos músicos de sopros. Mas os dois cantores, mais interessados em repartir a platéia entre "mulheres lindas" e "senhores" do que em sutilezas vocais, aliado a um repertório que privilegiava a bagunça, liquidaram com a arte.
Não que tenham decepcionado o público, que, malgrado sua avançada média etária, dançou à farta. Estimulados, mais de 20 espectadores chegaram a subir ao palco, para um solinho abaixo da média de algo muito próximo da dança da garrafa.
Impressionou, em alguns números, a simpatia pela fusion. Ao entrar, com o baixista (agora guitarrista) brasileiro Arismar do Espírito Santo ainda no palco -ele fez o show de abertura-, a Habana Ensemble conseguiu soar David Sanborn -com direito a um Hiram Bullock encarnado em Arismar.
Lou Bega não foi invocado, mas o mambo deu as cartas. Um "Mambo Número 8" contou com a participação da platéia, que foi capaz de contar em espanhol. Alguma ênfase também no cha-cha-cha, com uma interpretação "festa de debutante" para "Vereda Tropical".
Estar no Tom Brasil na sexta lembrou Diego Maradona, que passa uma temporada de desintoxicação num "spa" de Havana.
A disciplina e o método não parecem ser as características principais da instituição, a julgar pela vida mundana e adiposa que o craque tem exibido por lá. Alguém precisa dar um jeito nisso.


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