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REBELDES COM CAUSA
Músico do Asian Dub Foundation diz que "Enemy of the Enemy" reflete cenário mundial de hoje
Terror e tensão "pré-guerra" inspiram ADF
DA REDAÇÃO
Leia a seguir a entrevista com o
baixista Dr. Das, do grupo Asian
Dub Foundation.
(SOS)
Folha - A viagem ao Brasil em
2001 parece ter tido impacto na visão musical e mesmo na visão de
mundo dos integrantes da banda.
Isso é verdade?
Dr. Das - Eu diria que sim, porque durante a viagem entramos
em contato com arte de boa qualidade, principalmente por meio da
música. Os brasileiros têm apenas
uma fração, às vezes até nada, das
condições que temos na Europa
para criar arte. Isso é muito inspirador. É uma lição de humildade
para as pessoas daqui [Europa]
que reclamam tanto da falta de recursos para realizar projetos.
De uma forma geral, nos afetou
a vibração do lugar, o entusiasmo
e o calor humano das pessoas.
Também foi nossa primeira viagem e a primeira turnê com essa
nova formação. Todo esse clima
ajudou a tornar a banda mais integrada e unida.
Folha - Em "Enemy", as letras parecem estar mais sombrias e agressivas e o som mais cru, comparando
com o disco anterior...
Das - Acho que as duas coisas
[letras e som" são parte de um
mesmo todo. O álbum realmente
é mais sombrio, tanto nas letras
quanto na música. Foi assim porque "Enemy" reflete o clima que
há atualmente no mundo. Isso
permeia, conscientemente ou
não, o som que criamos. "Blowback" e "Enemy of the Enemy",
por exemplo, são músicas pós-11
de setembro. Há também a participação de Ed O'Brien, do Radiohead, que toca um tipo de guitarra, digamos, "paranóica". De
qualquer forma a música tem de
fazer par ao que as letras dizem.
Folha - Qual a sua opinião sobre a
postura de George W. Bush quanto
a uma possível guerra no Iraque?
Das - Eu acho que ele está cavando sua própria cova. Mas nós ainda veremos o fim do "Império
Romano". Pode ser que isso leve
um bom tempo. No entanto, não
podemos deixar de protestar e
usar os meios que temos à mão
para evitar que essa situação prossiga. Se dissermos que nada pode
mudar, então a profecia vai se autocumprir. Não vai mudar, porque não estaremos fazendo nada.
Folha - Como foi a participação de
Edy Rock, dos Racionais MC's, em
"19 Rebellions"?
Das - Nós na verdade não entramos em contato direto com os
Racionais. Há uma pessoa, a
quem chamamos de "ativista musical", um canadense chamado
Pat Andrade, que gravou a participação de Edy Rock e fez o trecho
falado que aparece na música.
Embora o assunto fosse sério, a
música acabou tendo um clima
meio de celebração, porque tem a
ver com tomar parte em iniciativas. É como Pat diz na música, sobre as pessoas aproveitarem
idéias e as utilizarem em seus locais de atuação. Algo que possa
trazer algum tipo de mudança social no Brasil. Esse é o nosso presente para os fãs brasileiros. Estamos retribuindo o tanto que levamos da viagem ao país.
Folha - Acha que a libertação de
Satpal Ram é a prova de que a música pode mudar algo?
Das - Eu acho que é a prova de
que a música pode interferir para
que algum tipo de avanço ocorra.
Acho que esse poder de interferência ainda é subestimado. A
música afeta a vida das pessoas de
uma forma positiva. Se elas estão
deprimidas, a música pode fazê-las seguir em frente, e eu sei que
isso é verdade, porque aconteceu
comigo na minha vida. E ainda
acontece quando ouço algo como
Miles Davis ou Nação Zumbi.
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