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São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

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REBELDES COM CAUSA

Músico do Asian Dub Foundation diz que "Enemy of the Enemy" reflete cenário mundial de hoje

Terror e tensão "pré-guerra" inspiram ADF

DA REDAÇÃO

Leia a seguir a entrevista com o baixista Dr. Das, do grupo Asian Dub Foundation. (SOS)
 

Folha - A viagem ao Brasil em 2001 parece ter tido impacto na visão musical e mesmo na visão de mundo dos integrantes da banda. Isso é verdade?
Dr. Das -
Eu diria que sim, porque durante a viagem entramos em contato com arte de boa qualidade, principalmente por meio da música. Os brasileiros têm apenas uma fração, às vezes até nada, das condições que temos na Europa para criar arte. Isso é muito inspirador. É uma lição de humildade para as pessoas daqui [Europa] que reclamam tanto da falta de recursos para realizar projetos.
De uma forma geral, nos afetou a vibração do lugar, o entusiasmo e o calor humano das pessoas. Também foi nossa primeira viagem e a primeira turnê com essa nova formação. Todo esse clima ajudou a tornar a banda mais integrada e unida.

Folha - Em "Enemy", as letras parecem estar mais sombrias e agressivas e o som mais cru, comparando com o disco anterior...
Das -
Acho que as duas coisas [letras e som" são parte de um mesmo todo. O álbum realmente é mais sombrio, tanto nas letras quanto na música. Foi assim porque "Enemy" reflete o clima que há atualmente no mundo. Isso permeia, conscientemente ou não, o som que criamos. "Blowback" e "Enemy of the Enemy", por exemplo, são músicas pós-11 de setembro. Há também a participação de Ed O'Brien, do Radiohead, que toca um tipo de guitarra, digamos, "paranóica". De qualquer forma a música tem de fazer par ao que as letras dizem.

Folha - Qual a sua opinião sobre a postura de George W. Bush quanto a uma possível guerra no Iraque?
Das -
Eu acho que ele está cavando sua própria cova. Mas nós ainda veremos o fim do "Império Romano". Pode ser que isso leve um bom tempo. No entanto, não podemos deixar de protestar e usar os meios que temos à mão para evitar que essa situação prossiga. Se dissermos que nada pode mudar, então a profecia vai se autocumprir. Não vai mudar, porque não estaremos fazendo nada.

Folha - Como foi a participação de Edy Rock, dos Racionais MC's, em "19 Rebellions"?
Das -
Nós na verdade não entramos em contato direto com os Racionais. Há uma pessoa, a quem chamamos de "ativista musical", um canadense chamado Pat Andrade, que gravou a participação de Edy Rock e fez o trecho falado que aparece na música.
Embora o assunto fosse sério, a música acabou tendo um clima meio de celebração, porque tem a ver com tomar parte em iniciativas. É como Pat diz na música, sobre as pessoas aproveitarem idéias e as utilizarem em seus locais de atuação. Algo que possa trazer algum tipo de mudança social no Brasil. Esse é o nosso presente para os fãs brasileiros. Estamos retribuindo o tanto que levamos da viagem ao país.

Folha - Acha que a libertação de Satpal Ram é a prova de que a música pode mudar algo?
Das -
Eu acho que é a prova de que a música pode interferir para que algum tipo de avanço ocorra. Acho que esse poder de interferência ainda é subestimado. A música afeta a vida das pessoas de uma forma positiva. Se elas estão deprimidas, a música pode fazê-las seguir em frente, e eu sei que isso é verdade, porque aconteceu comigo na minha vida. E ainda acontece quando ouço algo como Miles Davis ou Nação Zumbi.


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