São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2009

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TRECHO

E então Leonora despencou totalmente, no dia em que voltaram a Branshaw Teleragh. É o fardo de nossas mentes miseráveis, é o flagelo do destino atroz, mas provavelmente justo, que nenhuma tristeza venha sozinha. Não, qualquer grande tristeza, embora a tristeza em si possa ter passado, deixa em seu lugar uma trilha de horrores, de miséria e desespero. Porque Leonora estava, ela própria, aliviada. Sentia que podia confiar em Edward com a menina e sabia que Nancy merecia confiança absoluta. E então, com o relaxamento de sua vigilância, veio o relaxamento de toda a sua mente. Esta é talvez a parte mais triste de toda a história. Porque é triste ver uma inteligência límpida vacilar; e Leonora vacilou. Você tem de entender que Leonora amava Edward com uma paixão que era ao mesmo tempo como uma agonia de ódio. E tinha vivido com ele durante anos e anos, sem lhe dirigir uma única palavra de ternura. Não sei como ela conseguia isso. No começo daquela relação, ela estivera simplesmente casada com ele. Era uma das sete filhas de um solar irlandês desarrumado e vazio para o qual voltou do convento de que falei tantas vezes. [...] É impossível imaginar uma experiência como a dela. Você pode quase dizer que ela nunca havia falado com um homem que não fosse padre. Vindo diretamente do convento, ela fora para detrás dos altos muros do solar que era tão parecido com um claustro quanto pode ser qualquer convento.


Extraído de "O Bom Soldado", de Ford Madox Ford



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