da Equipe de Articulistas

"Independência" é, provavelmente, um dos grandes romances norte-americanos da década. Richard Ford, o "poeta das pequenas vidas", realizou dessa vez seu livro mais extenso e ambicioso.
Concentrada no tempo (feriado de 4 de julho de 1988 e os três dias que o antecedem), a narrativa amarra um sem-número de pequenas histórias, envolvendo não só o protagonista-narrador, Frank Bascombe, mas indivíduos comuns. O eixo é uma viagem de Bascombe com o filho de 15 anos, Paul, que vive com a mãe e passa por uma fase à beira da delinquência e da marginalidade.
Mas a viagem propriamente dita -que consiste de visitas aos pavilhões da fama do basquete, em Springfield, e do beisebol, em Cooperstown- começa só lá pela metade do romance.
Antes disso, Bascombe vê-se às voltas com clientes em busca de novas casas e novas vidas e também com a ex-mulher, a atual namorada, os vizinhos etc.
Como na clássica descrição que Erich Auerbach faz do épico homérico, nada fica à sombra no realismo de Richard Ford. Cada personagem tem direito a seu momento de brilho nessa prosa generosa, receptiva e, contudo, crítica.
A primeira parte do livro é como um conjunto de pequenos contos, filtrados por Bascombe, que vê tudo com uma ironia serena, característica do que chama de "idade da existência". É uma espécie de "Short Cuts" ambientado em Haddam, Nova Jersey, e narrado em primeira pessoa.
Na verdade, Ford apenas familiariza o leitor com o personagem e seu entorno, preparando o clima para a viagem de pai e filho, que adquire o duplo sentido de descoberta pessoal e revelação do país.
Entrelaçar a espinhosa relação desse pai e desse filho aos impasses da América pós-Reagan é a façanha literária que Richard Ford realiza com verve, classe e humor, como se estivesse nos contando histórias numa mesa de bar. (JGC)

Livro: Independência (Independence Day) Autor: Richard Ford Tradução: Marcos Santarrita Editora: Record Preço: R$ 45 (486 págs.)


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