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O FENÔMENO MUSICAL
Demora não tira o gosto
EDSON FRANCO
Editor de Veículos
Pena que "Buena Vista Social
Club" tenha demorado tanto para
entrar no circuito comercial no
Brasil -chegou primeiro ao Rio,
em 18 de fevereiro, depois Brasília
e Belo Horizonte, em 17 de março.
Apesar de ainda dar mostras de
vitalidade, a onda de música cubana -cujos estopins foram o filme e o CD homônimo- chega ao
país já com um gosto de rebote.
Mas isso não tira a importância
dessa redescoberta de uma musicalidade abruptamente enclausurada pelo embargo decorrente da
revolução de Fidel Castro.
Para dar um toque mais dramático a esse resgate, há uma série de
obras do acaso.
Ao fazer as malas para gravar o
disco e o documentário com músicos da velha-guarda cubana, o
guitarrista norte-americano Ry
Cooder, 52, conhecia poucos nomes e sequer tinha a certeza de
que os donos desses nomes ainda
estavam vivos.
Chegando à ilha, encontrou um
parque jurássico musical. Os poucos nomes da lista de Cooder
apresentaram outros músicos.
Todos estavam loucos para registrar em disco uma música que
vem deleitando apenas os nativos
há mais de 40 anos.
Para dar uma idéia do cenário
que se descortinou aos olhos do
guitarrista norte-americano, o
cantor Ibrahim Ferrer, 72 -estrela maior da turma de "Buena
Vista"-, trabalhava como engraxate às vésperas do convite para
participar da empreitada.
Ao nome dele, somam-se, principalmente, os do cantor Compay
Segundo e do pianista Rubén
González, que não estavam levando uma vida muito melhor.
Mas, em termos estritamente
musicais, qual a importância desse resgate? A resposta é simples e
reside no fato de os músicos envolvidos ainda terem vigor suficiente para passar adiante uma
tradição que dominam. Isso apesar da média de idade de mais de
meio século dos músicos.
Assim, eles retomam a história
musical da ilha do ponto em que
ela estagnou, mais exatamente em
1959, ano da revolução.
E trazem de volta uma química
que mistura bongôs, marimbas e
contrabaixos mantendo o ritmo,
metais que dão brilho e pontuam
a melodia, violões como referenciais harmônicos e cantores especialistas na arte de explorar timbres agudos e notas longas.
O resultado é uma música que
ainda respira contemporaneidade. Muito mais do que um prazer
arqueológico, a sonoridade da
turma de "Buena Vista" passa a
certeza de que, independentemente de questões ideológicas,
estatização tem limite.
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