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ANÁLISE
Marketing social empobrece ficção na TV
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na ânsia de mostrar uma dimensão construtiva da TV,
diversos programas andam privilegiando conteúdos com registro
"didático" em detrimento de boa
dramaturgia. Novelas, na tradição
do romance seriado francês do século 19, que Marlyse Meyer aborda no seu livro "Folhetim", há
muito aludem a eventos atuais.
Nos anos 80 e 90, referências a
temas sociais e políticos faziam
parte das convenções do gênero,
com menções à campanha pelas
diretas ou personagens que advertiam, por exemplo, sobre a necessidade de usar camisinha.
Hoje essas referências se tornaram obrigatórias e "oficiais". O
tom "politicamente correto" das
produções atuais aniquila a possibilidade da criação artística.
Campanhas antidrogas, antiviolência ou divulgação do hábito
da leitura ganharam o nome técnico de "marketing social". E como tal perdem força dramática.
Seriados para jovens como
"Malhação" ou seu dublê português "Morangos com Açúcar", dirigida pelo brasileiro ex-Tupi Atílio Riccó, que estreou dublada na
Band anteontem, giram em torno
do bom mocismo educativo.
A intenção é transmitir a idéia
de que o aprendizado pode ser
prazeroso. Mas a superficialidade
do projeto transpira no resultado.
As histórias acontecem em escolas, mas essas "usinas" de criatividade são mesmo local privilegiado para tramóia, fofoca e namoro.
Reduzida às mensagens sociais ou
comerciais, a ficção se esvazia e o
imaginário empobrece. Pior, o
fantasma da manipulação dos
meios de comunicação ressurge...
Decisões apressadas
Índices do Ibope às vezes provocam decisões apressadas de programação. É o que se vê com a
transferência repentina do "Jornal da Record", sólido telejornal
de opinião, para mais tarde. A
emissora a justifica como estratégia de alavancar a audiência da
novela "Metamorphoses". Já a
Band comemora a troca, interpretando-a como uma fuga do concorrente. Difícil mesmo é encarar
o "Cidade Alerta" espichado, já
que o programa, ao contrário do
"jornal do Bóris", em dias "normais", carece de assunto.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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