São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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DISCOS LANÇAMENTOS

Wu-Tang Clan e Gravediggaz

Polêmica não falta no disco de estréia do Wu-Tang Clan; primeiro CD de Rakim tem peso; e clássicos dos anos 70/80 recebem versões da nova escola do rap

SÉRGIO MARTINS
especial para a Folha

"Enter the Wu-Tang (36 Chambers)", álbum de estréia do Wu-Tang Clan, desembarca no Brasil cinco anos após seu lançamento nos EUA. Apesar do atraso, o disco mantém suas qualidades iniciais: trata-se de um clássico do rap dos anos 90.
É também o melhor cartão de visitas do Wu-Tang Clan, comunidade formada por desempregados e traficantes da região de Staten Island (Nova York). Eles obedecem a uma doutrina estranha, em que o jogo de xadrez e filmes porcos de artes marciais são tão importantes quanto rimas e batidas.
Para o Wu-Tang, das diversas somas de um tabuleiro saem números poderosos, que acabam citados nas composições das bandas (nem tente entender isso: um repórter da revista "The Face" tentou decifrar esse código maluco e quase parou no hospício).
O grande poder do Wu-Tang Clan, na verdade, reside em RZA (ou Prince Rakeem), rapper e produtor. Foi ele quem plantou as primeiras sementes da comunidade ao gravar o single "I Love You Rakeem", no início dos anos 90.
A canção era uma grande besteira, reflexo do rap produzido na época. Ao lado do primo, Genius e rappers do quilate de Method Man, Ol' Dirty Bastard, Chef Raekwon e Ghostface Killah, RZA lançou o single "Protect Ya Neck", pela gravadora Tommy Boy.
O disco é perturbador, cheio de batidas soturnas e letras barra-pesada. Uma ótima opção ao rap-lixo produzido então (e que, infelizmente, ainda triunfa com nulidades como Notorious B.I.G. e Puff Daddy). Além da produção impecável de RZA, boa parte do trunfo do Wu-Tang reside no talento e na originalidade de seus rappers.
O grupo tem Method Man, que tem um modo todo particular de mandar suas rimas (ele as faz chupando os dentes). Tem Ol' Dirty Bastard, o Boca de Ouro de Staten Island (assim como o personagem de Nelson Rodrigues, ele tem uma dentadura de ouro e se envolve em atividades ilícitas), soltando letras satíricas em canções como "Can It Be All So Simple". Tem Ghostface Killah (que se vangloria de fazer os machões do gueto chorar com suas letras sobre pobreza), Genius e Chef Raekwon.
O disco possui atitude. É pesado, com letras perturbadoras e impossíveis de serem ignoradas. As atrocidades narradas em "C.R.E.A.M." -cujo clipe mostrava cenas de assassinato e violência contra as mulheres- recebeu manifestações negativas de gente como Dionne Warwick -que foi à justiça contra o gangsta rap.
Gravediggaz
Depois do lançamento de "Enter the Wu-Tang", os integrantes do grupo lançaram seus álbuns solos (o melhor é o de Method Man), se reuniram novamente em "Wu-Tang Forever" (um dos grandes lançamentos de 97) e estão tocando outros projetos solo. RZA, por exemplo, juntou forças com o produtor Prince Paul e formou os Gravediggaz.
"The Pick, the Sickle and the Shovel" é o segundo álbum do grupo, que mistura influências de contos de terror e ficção científica com produção acima da média, embalado por samples de boa qualidade e arranjos de cordas.
Não é tão brilhante quanto os álbuns do Wu-Tang Clan, mas está a anos-luz do rap produzido por Puff Daddy e agregados.


Sérgio Martins, 30, é editor da "Showbizz"


Disco: Enter The Wu-Tang (36 Chambers) Grupo: Wu-Tang Clan Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média

Disco: The Pick, the Sickle and the Shovel Grupo: Gravediggaz
Lançamento: Gee Street (importado) Quanto: R$ 22, em média Onde encontrar: Nuvem Nove Discos (r. Clodomiro Amazonas, 116, Itaim, tel. 011/820-7051)


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