São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Artista carioca volta a São Paulo após quatro anos para individual na galeria Luisa Strina
Fernanda Gomes conta histórias com silêncio

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Depois de quatro anos sem mostrar seu trabalho em São Paulo ou no Brasil, Fernanda Gomes volta à cidade e inaugura hoje, às 19h, uma mostra individual na galeria Luisa Strina. Nela, a artista carioca apresenta uma série de objetos e esculturas em que trabalha com fenômenos físicos, pois lidam com magnetismo, propagação da luz e do som, inércia e movimento.
"Mais que um fenômeno físico, o imã representa a possibilidade de uma mobilidade constante. Ele conecta dois objetos, mas não os fixa. Você pode interromper e religar", disse Fernanda Gomes.
Melhor ainda: Fernanda Gomes inaugura hoje na galeria Luisa Strina uma mostra de objetos e esculturas que remete ao universo dos jogos infantis, como a pedra, que, presa a um fio de náilon, salta e balança sobre uma barra de ferro. Ou o aro de ferro que, com um pequeno bastão de ferro, linha e imãs, forma um múltiplo quebra-cabeças.
"Em português, o brincar é sempre encarado como uma coisa não séria. Já em inglês, "to play' é algo sério. Interessa-me encarar o trabalho de criação como uma brincadeira séria. Quando uma criança tira um tempo para brincar, aquilo é uma coisa séria. O brincar faz a ligação do imaginário com o real", disse a artista.
Não, melhor assim: a artista plástica carioca Fernanda Gomes inaugura hoje uma nova mostra na cidade, em que trabalha com o seu universo íntimo e feminino, a partir de materiais como linha, agulha, tecidos, pregador de roupa, carretel e cravo-da-índia.
"Interessa-me o que posso falar, dando a minha visão. Como sou mulher, meu trabalho também reflete isso", disse a artista.
Tudo isso para dizer que a mostra que Fernanda Gomes inaugura hoje na cidade não poderia ser mais instigante, rica, sutil e aberta às mais diversas possibilidades de leitura. Enfim, é tudo verdade em Fernanda Gomes e todos esses discursos são redutivos em relação à sua obra, muito mais afeita ao silêncio que ao discurso.
"São mil histórias que eu poderia contar, mas elas roubariam o silêncio que a obra precisa. Elas roubariam mais que acrescentariam. Não pretendo rechear o vazio do trabalho com discurso. Tento ser o mais silenciosa possível para permitir que os trabalhos falem. Eles falam muito mais línguas que eu poderia", disse.
E falam mesmo. Falam de amor, como as duas bolas de aço que, apesar da diferença de tamanho, dançam e se beijam, apesar do vidro que se coloca entre elas.
Falam também de harmonia, como no encontro insólito entre o pregador e o aro de ferro, que dançam ao mais leve toque no brilhante chão da galeria. Ou então de solidão e encontro, como a bola preta de pedra obsidiana, que, apesar de diferente (lisa, dura e brilhante) de suas irmãs de linha e cravo-da-índia (irregulares, leves e opacas), também encontrou o seu lugar.
A instalação de Fernanda Gomes funciona assim como um pequeno mostruário da possibilidade das relações, com todas as suas impossibilidades e transparências.
A mostra marca os dez anos de carreira da artista, que estreou em 1988 na galeria Macunaíma, da Funarte, no Rio. No ano passado, Fernanda realizou individuais em Londres e Malmö, na Suécia.
Mostra: Fernanda Gomes Suporte: objetos, instalação e desenhos em materiais diversos Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974A, Jardins, tel. 011/280-2471) Vernissage: hoje, às 19h Quando: de segunda a sexta, das 10h às 20h; sábado, das 10h às 14h Quanto: de R$ 500 a R$ 5.000


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