São Paulo, Quarta-feira, 31 de Março de 1999
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DEBATE
Obra do diretor baiano, morto em 81, foi analisada após a exibição de quatro curtas
Evento lembra 60 anos de Glauber

free-lance para a Folha


O evento "Curta Glauber Rocha", que aconteceu em São Paulo na sala 4 do Espaço Unibanco, às 11h do último dia 13, exibiu quatro curtas-metragens e concluiu em debate a importância da visão histórica que o diretor baiano tinha sobre o Brasil.
Promovido pela Folha, Canal Brasil e Espaço Unibanco de Cinema, a mesa-redonda recebeu Carlos Augusto Calil, professor de cinema da ECA/USP, Lúcia Rocha, mãe do diretor, e Wilson Cunha, crítico de cinema e diretor das emissoras Multishow e Canal Brasil. A mediação foi da articulista da Folha Lúcia Nagib.
Os filmes apresentados -"O Pátio" (1959), "1968" e "Maranhão 66", de Glauber, e o documentário "A Mãe", de Fernando Beléns e Umbelino Brasil- serviram como "pretexto" para que se discutisse a contribuição ao cinema do diretor baiano, que faria 60 anos no dia 14.
"Maranhão 66" foi um filme de encomenda que Glauber rodou naquele ano sobre a candidatura de José Sarney ao governo maranhense. Carlos Augusto Calil salientou que, apesar de oficial, o filme tem várias contradições, agradando não só os partidários de Sarney como aqueles que sabiam que suas promessas de progresso no Estado não se concretizariam.
Calil salientou que "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Terra em Transe" foram seus melhores filmes porque tinham linguagem própria e base histórica e cultural fortes. Mais tarde, quando o diretor tentou levar seu modelo para a África, não possuía o historicismo daquele continente, perdendo a contundência da fase brasileira.
E "O Pátio" -seu primeiro filme- é, para Calil, uma obra interessante, que mostra "um jovem cineasta que ainda não entendia ele próprio".
Já Lúcia Rocha, emocionada no início de sua explanação, reclamou da crise financeira que o museu Templo Glauber, no Rio de Janeiro, vem passando. Segundo ela, muitos dos documentos escritos pelo próprio Glauber estão em deterioração.
Wilson Cunha lembrou o Glauber dos anos 60 e a força de seus personagens, como o matador de cangaceiros Antônio das Mortes.
Segundo Calil, o que ficou como legado da obra de Glauber é como uma esfinge que diz "decifra-me ou te devoro". "Ainda somos devorados (pela miséria, atraso e violência) e, enquanto não pudermos decifrar o legado do diretor, ele nos perseguirá para lembrarmos de nossa miséria moral e política", concluiu.


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