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CINEMA
Morre Shohei Imamura, pilar da nouvelle vague japonesa
CRÍTICO DA FOLHA
Shohei Imamura, um dos
pilares da nouvelle vague japonesa, morreu ontem, em
Tóquio, aos 79 anos, de câncer de fígado.
Ao lado de Nagisa Oshima
e Masahiro Shinoda, foi um
dos mais destacados diretores da geração que sucedeu a
tríade clássica mais conhecida do cinema nipônico: Ozu,
Mizoguchi e Kurosawa.
Foi sob as asas do primeiro
que Imamura estreou no cinema, em 1951, como assistente de direção em "Também Fomos Felizes". O
aprendizado se estenderia ao
longo de três filmes e serviu
para que encontrasse um
ponto de vista pessoal do
qual emergiu toda a sua obra.
Em contraste com o universo de Ozu, feito de dramas
sociais focados na vida cotidiana, que ele considerava
muito próximo da imagem
oficial, Imamura voltou seu
olhar para uma cultura mais
submersa, escondida pelo
processo de modernização.
O mundo das prostitutas e
cafetões, dos bêbados e ladrões, dos pornógrafos e dos
camponeses é que vai lhe interessar. Sobre eles, Imamura lançou um olhar considerado por muitos como "entomológico", em que a desordem, a animalidade e o poder
destrutivo das forças orgânicas primavam sobre os valores de honra, obediência,
conformidade e lealdade.
Seu interesse pelo grotesco, pelo retrato naturalista e
pela aproximação entre humanos e animais se afirmará
ao longo dos anos 60 em títulos como "Todos Porcos" e
"A Mulher-Inseto" e culmina com o mergulho antropológico sobre uma comunidade vivendo em condições
pré-históricas em "O Profundo Desejo dos Deuses".
Nos anos 70, se dedicou à
produção de documentários
para a TV. Seu retorno à ficção coincide com o renome
internacional. Em 83, recebe
a primeira das duas Palmas
de Ouro em Cannes, com "A
Balada de Narayama", em
que resume seu interesse antropológico e o tinge com
uma qualidade poética capaz
de converter o Ocidente.
"A Enguia" é outro grande
exemplo de suas habilidades
de entomologista no estudo
da alma humana. Ou como
resumiu: "Insetos, animais e
humanos são semelhantes
no sentido em que nascem,
evacuam, reproduzem e
morrem. O que significa ser
humano? Procuro pela resposta fazendo filmes. E não
sei se achei alguma".
(CSC)
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