São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 2006

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CINEMA

Morre Shohei Imamura, pilar da nouvelle vague japonesa

CRÍTICO DA FOLHA

Shohei Imamura, um dos pilares da nouvelle vague japonesa, morreu ontem, em Tóquio, aos 79 anos, de câncer de fígado.
Ao lado de Nagisa Oshima e Masahiro Shinoda, foi um dos mais destacados diretores da geração que sucedeu a tríade clássica mais conhecida do cinema nipônico: Ozu, Mizoguchi e Kurosawa.
Foi sob as asas do primeiro que Imamura estreou no cinema, em 1951, como assistente de direção em "Também Fomos Felizes". O aprendizado se estenderia ao longo de três filmes e serviu para que encontrasse um ponto de vista pessoal do qual emergiu toda a sua obra.
Em contraste com o universo de Ozu, feito de dramas sociais focados na vida cotidiana, que ele considerava muito próximo da imagem oficial, Imamura voltou seu olhar para uma cultura mais submersa, escondida pelo processo de modernização.
O mundo das prostitutas e cafetões, dos bêbados e ladrões, dos pornógrafos e dos camponeses é que vai lhe interessar. Sobre eles, Imamura lançou um olhar considerado por muitos como "entomológico", em que a desordem, a animalidade e o poder destrutivo das forças orgânicas primavam sobre os valores de honra, obediência, conformidade e lealdade.
Seu interesse pelo grotesco, pelo retrato naturalista e pela aproximação entre humanos e animais se afirmará ao longo dos anos 60 em títulos como "Todos Porcos" e "A Mulher-Inseto" e culmina com o mergulho antropológico sobre uma comunidade vivendo em condições pré-históricas em "O Profundo Desejo dos Deuses".
Nos anos 70, se dedicou à produção de documentários para a TV. Seu retorno à ficção coincide com o renome internacional. Em 83, recebe a primeira das duas Palmas de Ouro em Cannes, com "A Balada de Narayama", em que resume seu interesse antropológico e o tinge com uma qualidade poética capaz de converter o Ocidente.
"A Enguia" é outro grande exemplo de suas habilidades de entomologista no estudo da alma humana. Ou como resumiu: "Insetos, animais e humanos são semelhantes no sentido em que nascem, evacuam, reproduzem e morrem. O que significa ser humano? Procuro pela resposta fazendo filmes. E não sei se achei alguma". (CSC)


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